A CRISE DA FÉ E A NECESSIDADE DE UMA NOVA REFORMA

12/02/2015 10:39

 

“Também se ocupam em curar superficialmente a ferida do meu povo,

dizendo:  Paz, paz! Mas não há paz.

Por acaso se envergonharam por terem cometido abominação?

Não, de maneira alguma; nem mesmo sabem o que é envergonhar-se...”

(Jeremias 6:14-15)

 

O espírito pós-moderno tem levado muitos crentes à banalização do sagrado. Milhares de pessoas entram pelos umbrais da igreja evangélica, mas continuam prisioneiras de suas crendices e de seus pecados. Têm nome de crente, fama de crente, mas não possui vida de santidade. Em vez de ser instruídas na verdade, são pessoas alimentadas por toda sorte de misticismo estranho às Escrituras. Em vez de crescerem no conhecimento e na graça de Cristo, aprofundam-se ainda mais no antropocentrismo idolátrico, ainda que maquiado de espiritualidade efusiva. Dentro dessa cosmovisão, os céus estão a serviço da terra, e Deus está a serviço do homem. Não é mais a vontade de Deus que deve ser feita na terra, mas a vontade do homem, no céu. Tudo tem de girar ao redor das escolhas, gostos e preferências do homem, que “declara” e “profetiza”, como se houvesse uma espécie de palavra mágica capaz de “criar bênçãos” para o seu bel prazer pessoal. O bem-estar do homem, e não a glória de Deus, tornou-se o foco central da vida. Assim, o culto também tornou-se antropocêntrico. Cantamos para o nosso próprio deleite. Louvamo-nos a nós mesmos. Influenciados pela síndrome de Babel, celebramos o nosso próprio nome.

 

Nesse contexto, a mensagem também precisa agradar o auditório. Ela é resultado de uma pesquisa de mercado para saber o que atrai o povo. O ouvinte é quem decide o que quer ouvir. O sermão deixou de ser a voz de Deus para atender à preferência. Os pregadores pregam não o que o povo precisa ouvir, mas o que o povo quer ouvir. O misticismo está tomando o lugar da verdade. A autoajuda está ocupando o lugar da mensagem da salvação. Assim, o homem não precisa de arrependimento, mas apenas de libertação e prosperidade, visto que ele não é culpado, mas apenas vitima. O pragmatismo pós-moderno está substituindo o antigo evangelho.

 

A banalização da teologia desemboca na vulgarização da ética. Onde não tem doutrina bíblica ortodoxa, não pode haver vida irrepreensível. A teologia é a mãe da ética. A ética procede da teologia. Onde a verdade é substituída pela experiência, a igreja pode até crescer numericamente, mas torna-se confusa, doente, inchada e superficial. O povo de Deus perece quando lhe falta conhecimento. Onde falta a Palavra de Deus, o povo se corrompe. Outrossim, onde não há santidade, ainda que haja ortodoxia, o nome de Deus é blasfemado.

 

A banalização do sagrado é vista claramente nas Escrituras. O profeta Malaquias denunciou com palavras candentes o desrespeito dos sacerdotes em relação à santidade do nome de Deus, do culto, do casamento e dos dízimos. A religiosidade do povo era divorciada da Palavra de Deus. As coisas aconteciam, o povo vinha ao templo, o culto era celebrado, mas Deus não era honrado. Jesus condenou também a banalização do sagrado quando expulsou os vendilhões do templo. Eles queriam fazer do templo um covil de salteadores; assim como aqueles que em nossos dias fazem do púlpito, um balcão de negócios; do evangelho, um produto de mercado e dos adoradores, consumidores de seus produtos.

 

O livro de Samuel denunciou de igual forma esse mesmo pecado. O povo de Israel estava em guerra contra os filisteus, pensando que Deus estava do lado deles, mesmo quando seus sacerdotes Hofni e Fineias achavam-se em pecado. Contudo, quatro mil israelitas caíram mortos na batalha, porque o ativismo não substitui a santidade. O povo, em vez de arrepender-se, mandou buscar a arca da aliança, símbolo da presença de Deus. Quando a arca chegou, houve grande júbilo, e o povo de Israel celebrou vigorosamente a ponto de fazer estremecer o arraial do inimigo. Mas uma derrota ainda mais fatídica foi imposta a Israel, e trinta mil soldados pereceram, os sacerdotes morreram, e a arca foi tomada pelos filisteus. Alegria e entusiasmo sem verdade e santidade não nos livram dos desastres. Rituais pomposos, mas sem vida de obediência não agradam a Deus. Deus está mais interessado em quem nós somos do que no que fazemos. Deus não aceita nosso culto nem nossas ofertas quando Ele rejeita a nossa vida. Antes de Deus aceitar nosso culto, Ele precisa agradar-se da nossa vida. É tempo de examinar a nós mesmos e voltarmo-nos para o Senhor de todo coração.

 

O culto cristão deve ser um ato sagrado

 

Mas a hora vem, e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque o Pai procura a tais que assim o adorem. Deus é Espírito, e importa que os que o adoram o adorem em espírito e em verdade.”   (João 4:23-24)

 

O culto deve ser oferecido somente a Deus, segundo as prescrições divinas. Caim quis cultuar Deus do seu modo e o Senhor rejeitou sua vida e oferta. Natã, Coré e Abirão tentaram trazer fogo estranho diante de Deus, e foram eliminados do arraial de Israel. Uzá, não sendo levita, tentou amparar a arca da aliança, e caiu morto. O culto não é produto da nossa imaginação, não é um espetáculo para a demonstração do talento humano e nem um show de ações bizarras, mas um ato de adoração a Deus, conforme os preceitos estabelecidos pelo próprio Deus. Hoje, muitos líderes tem agregado ao culto práticas estranhas ao ensino das Escrituras. Essas práticas parecem empolgantes, mas são desprovidas de autenticidade. Agradam aos olhos humanos, mas não ao coração de Deus.

 

O dia do Senhor deve ser guardado e respeitado

 

Se desviares o teu pé do sábado, de fazeres a tua vontade no meu santo dia, e chamares ao sábado deleitoso, e o santo dia do SENHOR, digno de honra, e o honrares não seguindo os teus caminhos, nem pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falares as tuas próprias palavras então te deleitarás no SENHOR, e te farei cavalgar sobre as alturas da terra, e te sustentarei com a herança de teu pai Jacó; porque a boca do SENHOR o disse.”  (Isaías 58:13-14)

 

Não estou fazendo aqui nenhuma apologia judaizante, mas uma denúncia contra a hipocrisia daqueles que afirmam apenas de boca guardar um dia semanal para o Senhor. Estamos vivendo numa geração secularizada. A Palavra de Deus está deixando de ser normativa para essa cultura moribunda. Deus está sendo empurrado para a lateral da vida e para dentro de alguns templos religiosos. Os próprios cristãos já não observam mais o dia do Senhor. Entregam-se a seus negócios, ao lazer ou ao ócio, deixando de cumprir preceitos divinos acerca da correta observância do dia do Senhor. Escolas Bíblicas Dominicais “respiram por aparelho” em muitas igrejas ou até foram exterminadas por outras, por influência do G12 ou M12, deixando os cristãos “livres” para as ofertas do mundo. Em muitos países, os crentes já não vão mais assiduamente ao templo. A jogatina e a busca por diversão tomou o lugar do culto a Deus. Crentes descomprometidos não se preparam convenientemente para cultuar a Deus e desprezam completamente o preparo espiritual para esse dia de adoração ao Deus Redentor.

 

A música sacra não pode ser um produto de mercado

 

“E pôs um novo cântico na minha boca, um hino ao nosso Deus; muitos o verão, e temerão, e confiarão no SENHOR.”  (Salmos 40:3)

 

Estamos vendo uma explosão da música gospel no Brasil. Temos muita música boa, com teologia sadia e musicalidade rica. Por outro lado, temos muita música ruim, com profundas distorções teológicas e com sofrível cabedal musical. A banalização da música de mercado e o testemunho péssimo e mundano de grande parte de seus cantores têm sido uma das causas mais evidentes da decadência espiritual das igrejas contemporâneas. Há muitos compositores evangélicos quase analfabetos de Bíblia e que pouco conhecem da sã doutrina e estão compondo sem nenhuma orientação espiritual. Outros tantos, afirmam terem sido convertido a Cristo, mas antes mesmo de um processo de discipulado profundo, já estão gravando novos CDs, apenas adaptando sua herança mundana ao universo gospel, O resultado é um verdadeiro estupro na sagrada musicalidade cristã, a invasão de ritmos musicais dignos de nojo no cenário cristão e a consolidação de uma geração de fãs idólatras que se desgraçam espiritualmente por conta dessa influência nefasta em nosso meio. O pior é que muitas igrejas assimilam essas músicas e disseminam sua mensagem eivada de desvios teológicos.

 

A ética precisa ser resgatada urgentemente em nosso meio

 

“Ai dos que ao mal chamam bem, e ao bem mal; que fazem das trevas luz, e da luz trevas; e fazem do amargo doce, e do doce amargo!” (Isaías 5:20)

 

A igreja evangélica brasileira tem extensão, mas não profundidade. Tem numero, mas não piedade. Cresce em poder de barganha, mas perde sua influência espiritual. Estamos vivendo uma aguda crise ética no meio evangélico. Multiplicam-se os escândalos entre a liderança. Enxurrada de gente entra para a igreja, mas não dá provas de conversão. Multidões correm ávidas atrás de milagres, mas não demonstram na conduta o milagre do novo nascimento. Os shows gospel estão lotados de crentes eufóricos, mas os cultos de oração seguem vazios e preteridos. Explodem a cada dia pretensos milagres veiculados jeitosamente na mídia, fazendo uma propaganda tendenciosa para enaltecer líderes gananciosos, enquanto o povo é mantido na mais densa escuridão espiritual. O lucro tem sido o vetor do ministério de muitos pastores e dos novos “apóstolos”. O comércio do sagrado no meio evangélico bota no bolso as indulgências da Idade Média. Precisamos de um choque ético no meio evangélico. Precisamos de uma nova Reforma. Não dá mais para tolerar a banalização do sagrado.

 

Junte-se a nós. Oremos contra esse estado de apostasia grassante e trabalhemos por uma nova reforma e pelo regresso a Cristo. Que Deus nos abençoe nessa jornada!