Luz e Trevas. Dois mundos incompatíveis

09/10/2014 23:49

 

 

"Eu sou a luz do mundo... E a luz resplandece na escuridão,

 mas a escuridão não lhe compreendeu".

 (João 8:12 e 1:5)

 

Eu sempre fui fortemente movido por essa percepção: Deus considera urgente a distinção entre a luz e as trevas. Uma de suas primeiras atitudes, no ato da criação do mundo, foi justamente essa..."Deus fez separação entre a luz e as trevas" (Gênesis 1:4). Assim nasceram dia e noite e suas respectivas características, o que as torna facilmente perceptíveis e distinguíveis entre si.

 

Quando penso em escuridão, isso me reporta a sentimentos profundamente negativos. E quando me concentro na ideia da luz, todas as alusões são agradáveis.

 

Mas como a escuridão se instala no coração humano, tornando-o uma densa noite ambulante?

 

Penso que a lâmpada das almas é o seu caráter, sua índole, sua natureza, sua estrutura mais íntima de personalidade. As inclinações para o mal, as ambições, o egoísmo e todo o conjunto de vícios que acarretam no obscurecimento da consciência, são a forma resumida de diagnosticar a cidadania das trevas.

 

A mensagem sintética de Jesus foi de que devemos amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a nós mesmos. Isso parece absolutamente razoável e digno de credibilidade, porém é fato que a grande maioria do gênero humano de todas as épocas sempre optou pelo caminho inverso. E qual seria a explicação para isso?

 

Há no imaginário coletivo uma preconcepção de que o proibido seja mais prazeroso que o lícito. O forte sempre foi seduzido por sua condição de suposta superioridade. O errado chega a ser até mesmo associado á coragem, a corrupção é tida por inteligência e a irreverência para muitos é concebida como modelo de comportamento. Essas são as principais rotas para o anoitecimento da alma.

 

As trevas são profundamente sedutoras pelo fato de fazerem promessas mais degustáveis que às da luz. O prazer, o poder, a vantagem, o favorecimento, a supremacia e o envaidecimento são aspectos intrinsecamente ligados aos mais básicos instintos da imperfeição humana e poucos são os que se propõem a desviar-se dos tais.

 

Tenho lido, por exemplo, na web, textos que estimulam o relacionamento com "A pessoa errada", dando um claro incentivo à degradação pessoal, à traição e ao experimentalismo aventureiro. Canções populares falam que "deveríamos ter errado mais". Anúncios publicitários estimulam a ambição financeira e o mercado de trabalho é palco de guerra para milhões de pessoas que encaram o próximo como um concorrente a ser suplantado ou até mesmo aniquilado. A mídia faz um trabalho fabuloso nessa direção. Suas programações, sobretudo as telenovelas, disseminam valores distorcidos, visões opostas a tudo que seja lúcido e ético, dando assim uma forte contribuição ao abalo das estruturas morais e os valores familiares que, em suma, sustentam a sociedade. Isso são trevas, agindo por meio de seus agentes.

 

No campo da religiosidade não é diferente. Temos um triste retrocesso em dias atuais, onde o sentimento iluminista parece ter absorvido fortes doses de narcisismo, sedimentando uma visão de fé que prioriza, privilegia e sacraliza o próprio homem, em detrimento de Deus.

 

Nesse sentido, convém salientar que a associação a uma igreja não nos remove automaticamente das trevas. Uma pedra jogada no fundo dos oceanos estará rodeada por muitas águas, mas o seu interior permanecerá seco. Assim ocorre com muitas pessoas, que vivem cercadas e afogadas por tradições e práticas religiosas, estando, porém, secas de Deus e vazias de Sua Palavra. Isso também é viver em trevas.

 

O texto de João que embasa essa mensagem diz que a luz resplandece sobre as trevas, mas elas não a compreendem.

 

O verdadeiro Evangelho é sempre incompreendido e rejeitado. O Cristo da manjedoura, que abdicou dos prazeres terrenos, que expulsou os canalhas vendilhões do templo, que afrontou o corrupto poder vigente, que em vez de residir em palácios nem tinha onde reclinar a cabeça, que em vez de desfilar em belas carruagens preferiu montar uma cria de jumenta e que trocou os aplausos e o reconhecimento humano pela vergonha da cruz - já não é aceito por aqueles que hoje apregoam uma caricatura mercadológica do evangelho e um ícone de suas próprias ambições e alucinações religiosas.

 

Jesus é a luz do mundo e todo aquele que caminha fora de suas diretrizes está em trevas. Não importa seu grau de intelectualidade ou todos os seus acúmulos acadêmicos. Não importa seu nível de poder temporal e financeiro, que nada podem e nada compram acerca da realidade celestial. Não importa o nível de aprofundamento da experiência religiosa em si, com seus delírios, "revelações", "visões" e toda sorte de novidade teológica. E não importa qualquer outra argumentação que se contraponha a essa verdade. O Evangelho é simples e fora disso não há luz.

 

 

"O julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas do que a luz;

porque as suas obras eram más. Pois todo aquele que pratica o mal aborrece a luz

e não se chega para a luz, a fim de não serem arguidas as suas obras".

(João 3:19-20)