Quem está derrubando os que estão caindo?

06/08/2014 12:14

 

 

“Pois é necessário que haja divergências entre vocês,

para que sejam conhecidos quais entre vocês são aprovados. “

(I Coríntios 11:19)

 

 

Alberto Carlos Sanchez – Foz do Iguaçu (PR)



Reinaldo Ribeiro o seu site é uma benção, mas é muito “perigoso” para quem realmente ama Jesus, porque aqui a gente entende que o Evangelho de Cristo não é uma filosofia de condenação do outro; e, assim, quanto mais a gente entende, mais revoltado a gente fica com o que se tem visto por aí...


Jesus nunca condenou ninguém pelo vestir, pelo falar, por vícios, ou qualquer outra coisa. Jesus só condenou um tipo de pessoa: as pessoas que condenam as outras. 


Mas vamos à minha pergunta: O que você acha do chamado mover de cair pelo poder de Deus?  É de Deus, do diabo ou modismo da carne? lgumas igrejas têm verdadeiro pavor desse mover. E o senhor? Um abraço, Carlos.

 

Resposta


Meu amado irmão Alberto Carlos: obrigado por suas palavras gentis e pelo importante tema que você me traz.


É verdade, Jesus nunca perdeu tempo com irrelevâncias ou com debates tolos; daí Ele não ter feito parte da confraria dos rabinos, nem tampouco fazia palestras no Sinédrio; menos ainda Ele gastava tempo com as questões que não fossem realmente de paz, de libertação e de vida eterna.


Assim, para Ele, o sábado pode esperar; o Templo pode ser derrubado; e os filhos do reino podem ficar de fora, ou podem ser precedidos por publicanos e pecadores.


Entretanto, Ele se preocupou bastante com as nossas “palavras”, e disse que de toda palavra frívola que procede da boca dos homens, de cada uma delas se dará conta no dia da Verdade.


Quanto ao tão falado  “mover do cair no Espírito”, digo o seguinte: Igrejas na África se permitem tais transes, pois a cultura deles conhece o sagrado como transe. Desse modo, se estou na África, onde a cultura lida com tais categorias há milênios, e vejo, num culto, um irmão cair em transe, acho menos problemático; ainda que no Novo Testamento tais coisas não aconteçam. Portanto, em sendo culturalmente corriqueiro, não me preocupa; até porque, em tais casos, não há induções ao desmaio; visto que todos os presentes já trazem esse costume de modo inato, assim como os crentes em geral fecham os olhos para orar. Um bom trabalho de aconselhamento bíblico costuma ter ótimos resultados por lá e rapidamente os excessos e carnalidades são substituídos pelo reverente modo bíblico de cultuar a Deus.


Todavia, aqui no Brasil, esse mover “logo se moverá” para “outra coisa”, visto que além de não possuir o mínimo respaldo na Palavra de Deus, também não faz parte de nossa constituição cultural; sendo apenas moda e desejo de expressar “poder”. Entretanto, tais abusos criam um espaço psicológico para o qual nós não carregamos uma cultura constitutiva. Desta feita, na hora do culto, toda tentativa de tornar normal algo tão absurdo, certamente fará mal à psique. 


Os chamados “moveres” de Deus nada mais são que invenções e manipulações de quem, não tendo Palavra para ensinar, precisa gerar transes para distrair sua audiência. Em muitos casos chega a ser um flagrante ato pensado e criminoso, que visa manipular as emoções coletivas, com o fim de lhes arrancar dinheiro sem qualquer dificuldade.


A essência do culto ensinado no Novo Testamento nos recomenda a preferir dizer umas poucas palavras inteligíveis do que milhares de palavras em outras línguas e que não sejam inteligíveis (I Coríntios 14:19). 


O culto racional do qual Paulo fala em Romanos 12 é uma convocação à lucidez, sendo que essa lucidez acontece como expansão da consciência em fé, e que somente se deixa extasiar pelas misericórdias de Deus, conforme o contexto de Romanos 12.


Eu tenho dito há muitos anos —e não mudei de ideia— que se alguém “cai no Espírito”, o mínimo que se deve esperar é que acorde melhorado, não apenas alienado e tonto. Uma experiência desse nível certamente precisaria ter algum valor efetivo para o reino e para a vida da Igreja, sendo que o mínimo a se esperar seria uma radical transformação (para melhor, obviamente) na vida moral, ética e espiritual daquele que caiu "pelo poder de Deus". Lamento dizer aqui que não é isso que tenho verificado. Se aquele que "cai" na igreja chega em casa e agredide sua esposa e filhos, se permanece dando mal testemunho em suas relações e negócios, então fica claro que tal queda não pode ser atribuída ao Espírito Santo de Deus.

 

Desse modo, devo dizer que a maioria das “quedas no Espírito” que vejo não passam em nenhum teste psicológico e muito menos pelo crivo bíblico. 


A maioria entra numa espécie de transe; e como há estimulo para tal, e como os que caem ganham status em tais comunidades, o individuo cai para poder ficar mais por cima em relação aos outros, olhando para os "inferiores", os que nunca caíram.  Ou seja, cair é coisa de quem tem fé e não cair é coisa de crente frio. Logo, todos caem mecanicamente, por indução ou livre vontade, a priori com o corpo, mas também espiritualmente.

 

Portanto meu amado, sou plenamente contrário a esse tipo de manifestação e penso que muitos reorientariam seu modo de crer e agir sobre esse assunto se soubessem quem ou o que de fato está por trás dessas quedas e quem é que está derrubando aqueles que estão caindo.

 

Eu poderia escrever muito mais sobre isto, e tenho plena consciência de que mexo num vespeiro de interesses e que desperto o ódio daqueles que constroem fortunas com esse tipo de heresia ou mesmo os que já foram fanatizados e engolidos pela apologia a enganos tão graves como esse.  Mas como a insanidade do joio não me intimida e como tenho convicção de que o Espírito Santo completará em seu coração aquilo que me faltou dizer, por aqui finalizo minha fala. Deus o abençoe!