A teologia do dízimo e o suposto roubo a Deus.

19/09/2015 00:18

 

"Trazei todos os dízimos à casa do tesouro, para que haja mantimento na minha casa, e depois fazei prova de mim, diz o Senhor dos Exércitos, se eu não vos abrir as janelas do céu, e não derramar sobre vós uma benção tal, que dela nos advenha a maior abastança. Repreenderei o devorador, para que não vos consuma o fruto da terra; a vossa vide no campo não será estéril, diz o Senhor dos Exércitos. Então todas as nações vos chamarão bem-aventurados, porque vós sereis uma terra deleitosa, diz o Senhor dos Exércitos". (Malaquias 3, 10-12)


 

Hoje o tema de nosso debate teológico é: Dízimo, qual a sua definição? Podemos, de fato, encontra-lo na Bíblia? E qual o sentido desta doutrina para nós Cristãos participantes da Nova Aliança em Jesus Cristo? Dentro de nossas igrejas vemos muitas definições sobre o dízimo, diferentes práticas sobre o mesmo, além de discussões intermináveis a respeito do tema.

 

Mas a final, o que é dízimo?

 

No original hebraico é: "ma´aser" que significa a décima parte.

 

Segundo o dicionário teológico é: A décima parte de uma importância ou quantia. Oferta entregue voluntariamente à obra de Deus, constituindo-se da décima parte da renda do adorador. O dízimo não tem caráter mercantilista, nem pode ser visto com um investimento. É um ato de amor e adoração que devotamos Àquele que tudo nos concede. De igual modo, é uma aliança prática entre Deus e o homem. O que é fiel no dízimo, haverá de usufruir de todas as bênçãos que o Senhor reservou-nos e sua suficiência.

 

O dízimo foi instituído por Deus aos judeus que viviam sob o domínio da Lei. Ele era usado para sustentar os levitas e suas famílias, os ministros da aliança (Nm 18, 21-24). Mesmo que os levitas recebessem esses dízimos do povo, eles não estavam isentos da entrega do dízimo. Requeria-se deles que entregassem a décima parte ao Senhor, ou o dízimo dos dízimos (Nm 18, 26-29).

 

Dízimo. Uma obrigação ou um gesto voluntário?

 

Afirmamos com base nas Escrituras que o cristão não é obrigado a dar o dízimo, nem por medo do "devorador" (Ml 3, 11) como alguns dizem ou de ser "amaldiçoado", porque o dízimo é um mandamento da lei judaica, além disso, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus e Ele já nos abençoou com todas as bênçãos nas regiões celestiais (Rm 8,1) e (Ef 1,3). Também afirmo que o cristão que não dá o dízimo não está roubando a Deus. Não temos o direito de chamar de ladrão a quem Jesus já libertou e redimiu por seu próprio sangue. Sua contribuição com 0% ou 100% é uma atitude pessoal e o cristão é livre para decidir. Jesus condenou a atitude dos judeus escribas e fariseus que dizimavam, mas não ofertavam o seu amor ao próximo. (Mt 23,23), infelizmente, muitos cristãos têm repetido esta mesma atitude. Se preocupam em ser fiéis no dízimo, mas não avaliam sua própria condição espiritual, seu testemunho junto à sociedade, sua conduta em família e sua ações prátricas de amor ao próximo.

 

Aqui deixamos uma pergunta: Se um crente é amaldiçoado pelo falta do seu dízimo, e se por essa causa é um ladrão, então como pode este mesmo crente estar liberto e salvo em Cristo Jesus? Porventura é possível que um ladrão amaldiçoado entre no reino dos céus?


Há muita conveniência, malícia e interesse por trás dos discursos atuais que mantém um caráter obrigatório para a entrega do dízimo. Mas conferindo a Palavra e refletindo sobre tudo o que foi escrito, orientamos o povo de Deus a que não permaneça debaixo da lei ou de doutrinas de homens, mas se dizimar, faça-o com uma consciência liberta, mesmo que os “apóstolos” da modernidade preguem ou façam o contrário.

 

Como era a oferta dos dízimos? Somente dinheiro?


Afirmo pelas Escrituras que Não. Veja em Lv 27, 30-34 e Dt 14, 22 , que os filhos de Israel dizimavam produtos da terra, cereais do campo, frutos das árvores, gado e rebanho. O dízimo visava a manutenção dos levitas. O que impede os líderes atuais de receberem produtos alimentícios como dízimo também e o repassarem aos necessitados? Não seria essa uma atitude agradável aos olhos de Deus e mais próxima da mensagem cristã?

 

No Novo Testamento em At 2,42-47 , vemos como viviam os primeiros cristãos ou a Igreja Primitiva, diz a Bíblia que eles perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas orações, tinha tudo em comum e até vendiam suas propriedades e bens distribuindo o produto entre todos, conforme as necessidades de cada pessoa. Em At 4, 34 não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos.

 

Hoje infelizmente vemos pessoas até de dentro da igreja passando fome e tendo dificuldades financeiras, sem qualquer ação de combate a isso, por ordens de ministros fora da direção do Senhor, que cruzam os braços e ainda impedem o serviço cristão.

 

Na dispensação em que vivemos (Dispensação da Graça), ou seja, continuação do Novo Testamento, Jesus não determinou de forma direta que o dízimo seria uma obrigação aos participantes desta Nova Aliança, mas como Igreja, somos movidos por voluntário amor a Deus, a dizimar e ofertar na casa do Senhor.

 

Pela Bíblia, fazendo uso de uma exegese séria e profunda nos textos do Novo Testamento, constatamos que não existe uma definição de quantidade para aquilo que depositamos no altar do Senhor (Ex: 10 %). Usa-se como parâmetro a décima parte, no entanto, não é uma obrigação metódica, pois as ofertas eram segundo as posses de cada um. Este é o mesmo entendimento para o dízimo hoje, ou seja, que se trata de uma doação à igreja de ofertas agradáveis, que devem ser usadas na manutenção do templo, Missões, meios de comunicações, mas, principalmente no auxílio aos irmãos mais carentes, ligados ou não à denominação; afinal, no Reio de Deus não há denominações, no céu não existem e nem existirão" placas de igrejas", pois todos que fomos lavados pelo Sangue de Jesus somos um só povo. É inaceitável que as igrejas guardem o dinheiro do Senhor em poupanças ou aplicações financeiras, enquanto há tantos irmãos necessitados de um auxílio emergencial.

 

As ofertas e os dízimos na Bíblia

 

a) CAIM E ABEL = Diz a Bíblia que Abel foi pastor de ovelhas e Caim lavrador da terra. Um dia trouxe Caim uma oferta ao Senhor do fruto da terra e Abel trouxe dos primogênitos de suas ovelhas, e da sua gordura. Assim Deus atentou para a oferta de Abel e não para a de Caim (Gn 4, 1-4). Abel ofereceu o mais excelente sacrifício a Deus e alcançou testemunho que era justo dando de suas ofertas (Hb 11, 4).

 

b) NOÉ = Em Gn 8, 20-22 , após Noé sair da Arca com sua família ele edifica um altar ao Senhor e oferece holocaustos dos animais limpos e aves limpas, ou seja, do melhor que ele tinha. Deus sentiu o suave cheiro do sacrifício e prometeu que não iria mais amaldiçoar a terra por causa do homem, foi uma oferta agradável ao Senhor.

 

c) ABRAÃO = Ao regressar da vitória sobre os reis inimigos, Abraão ainda chamado Abrão deu a Melquisedeque, sacerdote de Deus e rei de Salém, o dízimo de tudo o que possuía e despojos da vitória ( Gn 14,18-20 ). Melquisedeque, que significa, "rei justo" é descrito como "rei da salém" ou "rei da paz", alguns teólogos o identificam como um rei de alguma região vizinha de Jerusalém, mas como sacerdote e rei ele prefigura o Cristo (Sl 110, 4 ), é uma cristofania (aparição do Cristo pré encarnado ) Hb 7, 1-10.

 

d) JACÓ = Fez uma aliança com Deus em Harã, movido a dar o dízimo prometeu ao Senhor a oferta se Deus estivesse com ele (Gn 28, 10-22 ).

e) LEI = No tempo de Moisés ou tempo da lei, o dízimo foi instituído por Deus e deveria ser posto nas mãos dos Levitas, em posse pelo ministério que eles serviam no tabernáculo, era a recompensa por não terem parte na herança da terra (Lv 27,30-34 ; Dt 14, 22-23 e Nm 18, 26-29).

 

f) JESUS = Ele chamou aos escribas e fariseus de hipócritas, pois davam os dízimos, mas estavam se esquecendo do mais importante, a justiça, a misericórdia e a fé (Mt 23, 23). Depois em Lc 18, 9-14, Ele conta uma parábola onde o fariseu foi ao templo para orar e dizia: "Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como o cobrador de impostos, jejuo duas vezes na semana e dou os dízimos de tudo o que possuo", mas Jesus nos dá uma lição de vida explicando que o fariseu se exaltou enquanto que o pobre cobrador de impostos orou dizendo apenas que Deus tivesse misericórdia dele, pois era um pecador e assim foi justificado diante de Deus. Em Mt 5, 23-24 , Jesus explica sobre a condição de vida que devemos ter ao ofertarmos ao Senhor, não adianta nada eu ir até o altar e levar minha oferta se tiver ressentido com algum irmão ou com alguma outra pessoa. Primeiro devemos nos reconciliar e depois fazer a oferta. Será que algum pastor defensor da linha que combatemos aqui rejeita a entrega do dízimo por parte de algum irmão que esteja fora desse padrão apresentado por Jesus? isso é quase impossível.

 

g) NOVO TESTAMENTO = Não faz profundas referências a respeito do tema, mas movidos pelo Espírito Santo, compreendemos que é bom e agradável ofertarmos a Deus. Em I Co 16:1-4 , vemos Paulo dando instruções para a igreja de Corinto e dizendo que conforme ele tinha ordenado às outras igrejas, assim os membros daquela congregação deveriam no primeiro dia da semana colocar em parte o que pudessem ajuntar, conforme a sua prosperidade. Já em II Co 9,6-11 ele diz que o que semeia pouco, pouco também ceifará, e o que semeia com fartura, com fartura também ceifará e que cada um deveria contribuir segundo o propósito do seu coração, não com tristeza ou por necessidade, pois Deus ama ao que dá com alegria. Ou seja, o NT não impõe 10% de nada, mas uma contribuição voluntária, sincera e amorosa, conforme o propósito voluntário de cada coração, sem pressões, sem ameaças, sem terrorismos.


Contribuindo com Amor

 

Somos mordomos e administradores do Senhor aqui na terra, tudo que temos é Dele e para Ele, estamos de passagem e somos forasteiros, pois nossa morada é no céu. É nosso papel dizimar, ofertar, ajudar em obras de evangelização e missionária, interceder espiritualmente e financeiramente conforme podemos e conseguimos, mas nunca esquecendo-nos do mais importante que é o "Amor". "Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa, ou como o sino que tine" (I Co 13:1). Ainda que eu dizime 10% de minhas rendas, oferte todos os cultos que participe, interceda na obra missionária, ajude com cestas básicas e ajudas sociais, se não tiver a principal e a mais importante qualidade do caráter cristão, o AMOR, eu nada sou e tudo isto é em vão.


Conclusão


Este é um tema desgastante, geralmente visto pelos não cristãos como um meio de explorar a fé dos mais simples e dentro da igreja como algo que produz argumentos conflitantes. É lamentável que muitas igrejas realmente ajam assim, explorando a boa fé de seus membros com promessas de recompensas extraordinárias para aqueles que darem ou pagarem os dízimos.

 

Na maioria das igrejas, se o cooperador da obra não é dizimista, ele nunca será consagrado a uma posição de Diaconato, Presbitério, Pastorado, Evangelista e outros. Algumas ameaçam os “inadimplentes” com supostas maldições, usam a figura do devorador do texto de Malaquias (que eram gafanhotos) e os aplicam a satanás, dando a entender que mesmo uma alma redimida por Cristo pode ter sua vida destroçada pelo inimigo, apenas pelo fato de não estar dizimando. Afirmo que isso não é apenas um equívoco exegético - é na verdade uma HERESIA digna de repúdio e reprovação veementes, sem o menor fundamento teológico. Outras denominações afixam os nomes dos “dizimistas fiéis” no mural da igreja, atribuindo honra ao homem e forçando, desta maneira, psicologicamente os que não dizimaram a que o façam também. Todas essas atitudes são lastimáveis, aproveitadoras e pecaminosas á luz da Palavra de Deus. Infelizmente, muitas igrejas têm se tornado bem parecidas com a Antiga Igreja Romana, que usava as indulgências como fonte de lucro, induzindo os fiéis a contribuírem por medo da maldição e a comprarem sua salvação do Inferno e do Purgatório.

 

Baseados nessa fundamentação teológica, nós da IGREJA CRISTÃ PROTESTANTE, temos por norma de estatuto não exigir nenhuma obrigatoriedade para a entrega do dízimo, não impor nenhum percentual para os valores entregues, jamais ameaçar de maldições ou atribuir status de “ladrão de Deus” para os que por motivos pessoais não puderem contribuir, nunca divulgar em murais nomes de doadores e jamais prometer bênçãos em troca de dízimos. Para nós, ao invés da prática imposta de uma contribuição como percentual fixo ou superior a 10%, todo filho de Deus é livre para ofertar segundo propõe o seu próprio coração, não apenas a título de sustento da Obra, mas antes de tudo como sinal de adoração sincera ao Senhor. É provável que jamais nos tornemos uma denominação poderosa, rica e influente - mas quem disse que devemos ser? 

 

Como Igreja de Jesus, essa é a nossa posição, definitiva e inegociável, pois para nós o significado mais profundo do dízimo é: "Deus não é Senhor apenas de 10% de minhas finanças, Ele é Senhor de 100% da minha alma, vida e coração!"