Cheios de religião e vazios de Deus

03/11/2014 12:24

 

 

“Tenham cuidado para que ninguém os escravize com filosofias vãs

e enganosas, que se fundamentam nas tradições humanas

e nos princípios elementares deste mundo, e não em Cristo.”

(Colossenses 2:8)

 

Pode parecer absurdo e contraditório, mas existem concepções religiosas que influenciam o homem de tal forma e exercem tamanho poder sobre sua consciência, que chegam mesmo ao ponto de apartá-lo de Deus.

 

Para muitos estudiosos da fenomenologia da fé, a religião surge a partir do momento em que o homem passa a questionar sua própria procedência e se vê deparado com mistérios que suplantam seu poder de compreensão. Para preencher as lacunas dessas dúvidas, ele projeta engenhosamente um complexo conjunto de mitologias, que acaba impondo o poder de ordenar seus passos, promovendo o alívio curador de todas as angústias que tipificam as almas que vagam sem respostas.

 

Outros a veem como inerente à própria natureza humana; algo que compõe sua estrutura mais interna, que o induz à busca pelo transcendente, já que, em tese, sua origem seria igualmente transcendente e provinda de um Ser superior, habitante das mansões eternas e munido dos mais indescritíveis atributos. Para os defensores dessa corrente, isso explicaria o fato de haverem comprovações arqueológicas de que o homem desenvolve práticas religiosas mesmo em seu estágio histórico mais primitivo e não o abandonou inclusive na atual era de profunda evolução científica e tecnológica.

 

Alguns conceitos desmistificadores são importantes na abordagem desse tema.

 

RELIGIÃO deriva do termo latino "Re-Ligare", que significa "religação" com o divino. Essa definição engloba necessariamente qualquer forma de aspecto místico e religioso, abrangendo seitas, mitologias e quaisquer outras doutrinas ou formas de pensamento que tenham como característica fundamental um conteúdo Metafísico, ou seja, de além do mundo físico, tangível, concreto e racional. Com base nesse simples e esclarecedor conceito, devemos aqui fazer uma forte crítica a todos aqueles que tentam desmerecer outros seguimentos religiosos, atribuindo-lhes a alcunha pejorativa de “Seita ou Heresia”, baseando-se apenas no fato de não pertencerem ao seu próprio grupo religioso.

 

SEITA é um termo derivado da palavra latina "Secta", que nada mais é do que um segmento minoritário que se diferencia das crenças majoritárias, mas como tal também é religião. Desta feita, tecnicamente toda seita é uma religião e dependendo no numero de adeptos, qualquer religião também é uma seita.

 

HERESIA é outro termo mal compreendido. Significa simplesmente um conteúdo que vai contra a estrutura teórica de uma religião dominante. Sendo assim o Cristianismo foi uma Heresia Judaica assim como o Protestantismo uma Heresia Católica, ou o Budismo uma Heresia Hinduísta. Trata-se, portanto, em caráter predominante, de uma argumentação intolerante e preconceituosa, quando almeja justificar atos violentos e/ou discriminatórios. Eu, particularmente, tenho especial preocupação com as “heresias cristãs”, ou seja, aquelas que ao longo da história surgem como ameaça ao Evangelho puro, simples e perfeito de nosso Salvador Jesus e que se manifestam dentro da própria igreja e não fora dela. Pois ameaças internas são sempre muito mais destrutivas do que oposições exteriores.

 

MITOLOGIA é uma coleção de contos e lendas com uma concepção mística em comum, sendo parte integrante da maioria das religiões, mas suas formas variam grandemente dependendo da estrutura fundamental da crença religiosa. Não há religião sem mitos, mas podem existir mitos que não participem de uma religião. O Brasil é um país que se vangloria de ser tido como a maior nação cristã do mundo. Há mais católicos e protestantes evangélicos vivendo aqui, do que em qualquer outra parte do planeta. Isso, todavia, não elimina a crise mitológica que assola a ambos. Por mais que essa verdade fira o ego de tantos, a riqueza de referências bíblicas assim encerra todos aqueles que veneram ídolos, que se autoflagelam em nome da fé, assim como aqueles que dentro do atual ambiente evangélico, adotam um estranho sincretismo esotérico-cristão, que pode ser facilmente constatado nas práticas, entre outras, do conhecido movimento G12 e suas imitações posteriores.

 

Confesso que particularmente nunca gostei do termo “religião”. Etimologicamente admito as virtudes da terminologia, mas historicamente nada motivou maiores crimes do que a insanidade religiosa do homem. Os crimes contra a humanidade praticados em nome da fé são uma dívida que certamente será cobrada e que nunca foi publicamente admitida em sua forma sincera e conveniente. Menções tímidas de alguns não apagam marcas sangrentas que afogam páginas infindas da trajetória humana sobre a face da Terra. Desta feita, talvez inconscientemente, sempre busquei me posicionar à parte do orgulho religioso e jamais me admiti como tal.

 

Como cristão, todavia, bem sei que necessariamente me enquadro no conceito, mesmo não sendo exatamente aquilo que se espera de mim. Isso porque as estruturas determinantes de minha fé não se baseiam nos discursos humanos, nos delírios fundamentalistas ou na esquizofrenia daqueles que confundem poder de Deus com balbúrdias e que pretendem espetacularizar e mercantilizar o sagrado – coisa que condeno frontalmente.

 

No entanto, quero aqui incentivar dois aspectos que para mim são de inegável relevância:

 

1.  As diferenças religiosas devem ser toleradas. Dentro do ponto de vista filosófico das ideias, não vejo nenhuma supremacia religiosa entre os seguimentos e, exceto as práticas que são notadamente neuróticas ou maléficas, todos os ramos dão a sua contribuição na construção de uma natureza humana melhor. Em suma, tendo na sociedade a predominância de um contingente religioso sincero, isso certamente lhe trará efeitos positivos em termos de ordem e desenvolvimento. Quanto às discordâncias, essas devem ser confrontadas apenas no âmbito das argumentações, sob a égide constante do respeito ao próximo e ao seu livre direito de crer naquilo que lhe aprouver.

 

2. Nenhuma prática religiosa deve descambar para o submundo do fundamentalismo. Os extremos a que esse delírio pode conduzir levam não poucas vezes, milhões de pessoas ao nível da loucura, da violência, do preconceito intolerante e da selvageria. O fim disso tudo é o aprisionamento a uma fanática dedicação à tradição religiosa, mesmo que na prática isso represente uma afronta à natureza e vontade de Deus. Estejamos sempre atentos, para que não caiamos nessa terrível armadilha do inferno.

 

A verdadeira religião vem de um coração puro, simples e honesto.

 

A Bíblia diz em Isaías 29:13  “Por isso o Senhor disse: Pois que este povo se aproxima de mim, e com a sua boca e com os seus lábios me honra, mas tem afastado para longe de mim o seu coração, e o seu temor para comigo consiste em mandamentos de homens, aprendidos de cor.” 

 

A verdadeira religião está focada em Jesus e não em filosofias.

 

A Bíblia diz em Colossenses 2:8  “Tendo cuidado para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo.” 


A verdadeira religião produz frutos espirituais.

 

A Bíblia diz em Mateus 21:43  “Portanto eu vos digo que vos será tirado o reino de Deus, e será dado a um povo que dê os seus frutos.” 


A verdadeira religião ajuda as pessoas e se manterem fiéis ao Senhor.

 

A Bíblia diz em Tiago 1:27 “A religião pura e imaculada diante de nosso Deus e Pai é esta: Visitar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e guardar-se isento da corrupção do mundo.”

 

 A que conclusão chegamos?

 

Jesus no coração e no centro de nossos passos, atitudes honestas e amorosas para com o próximo e a postura corajosa de estarmos isentos das contaminações e corrupções humanas – seria o que eu tenho coragem de chamar de religião. E isso é um sentimento, um voto, um compromisso e não uma instituição, um CNPJ ou uma placa feita pelas imperfeitas mãos do homem!