Eu ainda acredito na Igreja

17/02/2015 03:36

 

 

“Alegrei-me quando me disseram: Vamos à casa do Senhor.”

(Salmos 122:1)

 

Em nosso país existem aproximadamente trinta milhões de pessoas que um dia frequentaram nossas igrejas, e que por motivos diversos já não o fazem mais. De fato, é extremamente comum observarmos por todos os lugares deste país, ex-cristãos que distantes da comunhão com Deus, do relacionamento da igreja, e do convívio dos irmãos, mergulharam novamente no pecado.

 

Dentre aqueles que outrora frequentaram os nossos templos,  encontramos indivíduos que voltaram a se drogar, a se prostituir, além é claro de cometer todo tipo de pecado. No entanto, na minha perspectiva este não é pior tipo de desviado, mesmo porque, tais indivíduos, reconhecem que estão longe de Deus, chorando em virtude de suas transgressões, sentindo saudades dos momentos que estavam em comunhão com o Pai. Normalmente conseguimos restaurá-los à comunhão com uma sábia e amorosa ministração da Palavra.

 

Todavia, ouso afirmar que o pior tipo de desviado não é o pecador "descarado", mais sim aquele  que vestido pela  roupagem da religiosidade comporta-se como fariseu, criticando tudo e todos,  botando em xeque a igreja, tornando-se assim um desigrejado.

 

Aqui mesmo eu já escrevi anteriormente e bem sei que alguns verdadeiramente se afastaram porque não eram dos nossos, (I Jo 2:19) outros, porque se decepcionaram ou se feriram na igreja, entretanto, insisto em afirmar que existe uma outra parcela dos denominados "desigrejados" que se afastaram por não desejarem se submeter a qualquer tipo de governo. Para estes, a livre interpretação da Bíblia prevalece sobre o exame hermenêutico mais apurado, a espontaneidade prevalece sobre a organização e as reuniões caseiras prevalecem sobre as reuniões no templo.

 

Tais indivíduos repudiam qualquer tipo de liderança eclesiástica, abominam rótulos e títulos, fazendo o que bem entendem da vida interpretando a graça de Deus de acordo com suas conveniências e interesses, demonstrando (por mais que não admitam) que estão desviados da fé.


Lamentavelmente é nessa perspectiva, que tem surgido neste país, os caminhos da graça barata, da liberdade sem responsabilidade e de tantos outros, cuja mensagem principal é de uma evangelho light onde o objetivo final é a satisfação do freguês.

 

Para piorar a situação,  boa parte dos "desigrejados" não desejam nenhum tipo de compromisso cristão. Em geral, essa atitude é gerada por pessoas que cometeram seus deslizes e depois se recusaram a submeter-se ao devido tratamento, pregando um novo "evangelho" onde a graça de Deus foi transformada em álibi para uma vida desprovida de compromisso e santidade.

 

Eu entendo perfeitamente que muitos cristãos de fato se feriram em virtude dos mandos e desmandos dos coronéis da fé, que com extrema arbitrariedade impuseram sobre o povo de Deus doutrinas absolutamente antibíblicas (coisas que eu também abomino e combato). Entretanto, isso em hipótese alguma justifica o crente em abandonar a comunhão dos santos.

 

A Igreja foi criada por Cristo. Ela é composta de gente falha, pecadora e cheia de limitações, todavia, continua sendo de Cristo.

 

“Não deixemos de congregar-nos...” (Hebreus 10:25) é uma afirmação clara da vontade de Deus quanto ao assunto; e alguns “recém-nascidos” em Cristo podem “ir à igreja” compelidos pelo medo da ira de Deus. Este é um motivo legítimo, ainda que seja menos necessário para os cristãos mais maduros. O ato coletivo dos santos, comparecendo às reuniões, tem por fim muito mais do que justificarem-se. Ele provém do caráter básico dos santos e dos seus propósitos apontados por Deus.

 

Todos os cristãos primitivos “que creram estavam juntos, e tinham tudo em comum” (Atos 2:44-46). Uma intimidade e singeleza de propósito como a deles juntava-os fisicamente, assim como juntará os verdadeiros cristãos de hoje. Eles atraíam uns aos outros pela oração como os pescadores se juntam para discutir as iscas; eles tinham interesse e objeto de adoração comuns.

 

Eles amavam a verdade, e seu prazer estava na lei do Senhor (Mateus 5:6; Salmo 1:2). Quando as pessoas têm fome, não é preciso insistir com elas para que vão aonde há comida; nem elas comem por “um senso de dever”.

 

Os cristãos fiéis tinham grande respeito e veneração por Jesus Cristo (1 Coríntios 11:23 em diante), portanto acolhiam com alegria a oportunidade de participarem da ceia comemorativa. Seus corações eram aquecidos e a fé renovada quando adoravam “em memória” de Cristo.

 

O cuidado de cada um com seu próprio bem estar espiritual, bem como dos companheiros cristãos, era refletido na assembleia. Em Hebreus 10:23-25 observe como o guardar “firme a confissão da esperança, sem vacilar” é relacionado com o congregarem.

 

E, porque “os discípulos, cada um conforme as suas posses, resolveram” fazer um caixa comum, uniram-se (Atos 11:29; 1 Coríntios 16:1-3). E um fundo comum é o meio de troca pelo qual uma pluralidade de santos age como um só para fazer a vontade de Deus. Algumas igrejas primitivas estavam tão ansiosas para fazer o trabalho de Deus que rogavam a Paulo que aceitasse as ofertas delas (2 Coríntios 8:4). O próximo versículo explica esta ânsia: elas tinham-se dado ao Senhor.

 

Os santos congregam-se, hoje em dia, por estas mesmas razões. Não me refiro àqueles que “assistem” ocasionalmente ao culto; digo aqueles que adoram com frequência, os poucos ou muitos fiéis.

 

Os indiferentes e os hipócritas dão desculpas; talvez até tentem algum argumento “lógico”, como “posso adorar a Deus mesmo estando só”. Certamente, o que se pode fazer, estando só, não é bem a questão. O hipócrita está raramente só (isto é, há outros santos ao alcance) e estando-se só, há pouco motivo para se acreditar que se adorará a Deus. Tais pessoas usualmente compõem seu erro mentindo a outros, a si mesmos e a Deus.

 

Diante do exposto, afirmo sem titubeios que continuo crendo na Igreja do Deus vivo como a única coluna e baluarte da verdade e faço minhas as palavras do Credo Apostólico: “Eu creio na igreja, pura, santa e verdadeira”.