Igreja sem sal. Fé desnutrida.

17/09/2014 00:50

 

 

 “Vós sois o sal da terra; e se o sal for insípido, com que se há de salgar?

Para nada mais presta senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens.”

(Mateus 5:13)

 

O Sermão da Montanha é uma das propagações teológicas mais fenomenais de toda história. Não só por ter sido proferida pelo Mestre dos mestres, mas por seu conteúdo absolutamente fantástico, perfeito e completo, quando se tem por referencial a conduta cristã e toda sua conjuntura.

 

As aplicações são várias e uma em especial nos chama muita atenção: o sal, sua originalidade e sua utilidade.

 

O caráter único do sal

 

Que se apresente qualquer outro elemento natural ou manufaturado capaz de desempenhar as mesmas funções do sal. Elementos conservantes ou condimentos capazes de promover sabor até podem ser achados em nosso meio, porém nada com poder e eficácia equivalentes ao sal, o qual pode ser facilmente identificado e diferençado em relação a tudo quanto a ele se proponha assemelhar. Ser “sal”, portanto, é ser único, diferente. Um cristão que possui caráter, atitudes, palavras ou mesmo aparência que o assemelhe às pessoas do mundo, jamais poderá ser considerado um sal.

 

Quem é o sal da Terra?

 

Jesus afirmou: “Vós sois o sal da Terra”. Obviamente suas palavras foram dirigidas de forma objetiva e contundente aos seus discípulos e todos aqueles cujo coração se voltava de maneira obediente à Sua Palavra. Portanto, todos os que são nascidos em Cristo, são o sal da terra.

 

As diferenças internas do sal

 

O homem impõe padrões de qualidade ao sal quando este é analisado na condição de produto industrializado. Esses padrões são definidos conforme o seu teor de pureza. Lamentavelmente assim também ocorre no meio cristão. Temos sal de todos os tipos e prazos de validade. Alguns atuam por determinado tempo de forma eficaz, outros mesmo atuando não estão qualificados para corresponderem ao que deles se espera. 

 

Fatores que determinam a qualidade do sal cristão

 

Sendo o sal um elemento original, deduzimos que o cristão deva ser igualmente um ser separado de todas as influências que possam comprometer a pureza e essência de seu compromisso com Deus.

 

Quando puro, o sal conserva e dá sabor de forma profundamente eficaz. Quando misturado a impurezas, o sal não só deixa de cumprir suas finalidades, como também pode agravar e adiantar o processo de deterioração daquilo que ele deveria manter.

 

Por que a Igreja moderna já não interfere positivamente no mundo em que vive?

 

A igreja moderna passa por uma crise de identidade teológica, sociológica e moral. Os frutos decorrentes dessa crise são tão evidentes quanto seu próprio estado de estagnação missionária. A face flagrante dessa crise se apresenta numa compostura híbrida que confunde o olhar de todo aquele que pretende identificar a imagem cristã, tal como nos é apresentada nos padrões bíblicos.

 

Em tempos modernos, pouca ou nenhuma é a diferença entre cristãos e não cristãos. Isso se revela nos campos da comunicação, da suposta evangelização, da pregação pública, das estratégias de crescimento, do testemunho individual e da musicalidade eclesiástica – sendo essa última já completamente absorvida pelo mercado fonográfico, como sendo tão somente um estilo a mais para ser consumido pelo gosto pessoal.

 

Não havendo a evidência que diferencia luz e trevas, consequentemente não haverá também a atuação contundente do sal.

 

Muito além da abordagem moral

 

Bem diferente do que pensam algumas correntes atuais, essa não é uma questão de opinião.  A geração cristã formada na última década tem sido vítima de um déficit teológico gritante e na ilusória satisfação de sua mal nutrida alimentação bíblica, passa a conceber pontos de vista contrários à sua realidade como sendo uma forma de inimizade ao próprio evangelho. Isso, porém, não procede e cabe à liderança de real poder e conhecimento, ministrar um retorno ao primeiro amor, onde o compromisso com Cristo Jesus passe por uma predominante decisão de santificação, rompimento com a aparência do mal, retorno à verdade bíblica conservadora e o bem estar diante de uma concepção de vida que sirva de exemplo para o mundo e não de cópia flagrante do mesmo.

 

O sal precisa conservar e dá sabor, mas se ele estiver em pé de igualdade com outros elementos inferiores, naturalmente não terá meios de viabilizar sua missão original. 

 

A utilidade do sal              

 

Para que serve um sal insípido? Foi a pergunta feita por Jesus.

 

Para que serve um cristão que não ganha almas? Para que serve uma igreja que não promove o impacto da salvação em sua comunidade? Para que serve uma canção cristã que proporciona as mesmas emoções e reações geradas pelas melodias seculares? Para que serve uma fé que não transforma o meio? Para que serve um rótulo denominacional que apenas serve de entulho religioso e nada faz pela redenção de seu campo de atuação? Para que serve um filho de Deus que vive sob as mesmas condições de um ímpio sem Deus? Para que serve um apanhado de rituais, programações, eventos, espetáculos e obras humanas que não revogam a atuação galopante do mal sobre a face da Terra? Para que serve uma palavra positiva que não altera na prática a ordem negativa das coisas? Para que serve, enfim, um sal insípido?

 

Jesus responde: “Para nada mais presta senão para se lançar fora e ser pisado pelos homens.”

 

O sal pisoteado

 

E é justamente isso que temos visto. Um sal pisoteado pelo mundo. Uma igreja sem crédito, envolta em denúncias de crimes financeiros, de especulações desmoralizantes ou de uma imagem associada à pobreza de lucidez e coerência.  Não é dessa igreja que o mundo precisa. Os arsenais de loucura, de fundamentalismo, de sincretismo e de descompromisso com o testemunho não são úteis e sim danosos ao papel e à imagem da igreja.

 

Qual é a sua escolha?

 

Se você pretende e se enxerga como sal, então me diga: que tipo de sal você é?

 

Um sal com prazo de validade? Um sal com padrão de qualidade inferior? Um sal insípido, que não atua na história de sua gente? Que não arranca almas do inferno? Que não exemplifica em seu próprio testemunho o novo nascimento cristão?

 

Ou será que você é um sal de alto teor de qualidade cristã? Ou seja, sal munido de autoridade, portador de vida que não pode ser convencida de pecado, que se orgulha (mas não se envaidece) da sua singularidade espiritual, fazendo uso humilde e bíblico dessa condição para fornecer notáveis exemplos ao mundo e fazendo dessa circunstância uma fabulosa plataforma de evangelização.

 

Jesus está em busca desse sal para a sua Igreja. Fiéis, ativistas religiosos, membros ou agremiados estão em toda forma de associação humana, mas a Igreja do Senhor é lugar de almas renascidas, de homens e mulheres diferentes (lugar de Sal) -  e não um clube a mais, que vive, prega e pratica as mesmas coisas que se dão fora de seus portões!