Música evangélica: uma trágica decadência

24/01/2014 01:44

 

 

“Afasta de mim o estrépito dos teus cânticos,

porque não ouvirei as melodias das tuas liras”

(Amós 5:23)

 

 

Penso que haja duas formas de se avaliar o atual estágio da música evangélica. Uma de caráter técnico e outra espiritual. Não faz muito tempo, tínhamos uma simplicidade típica, quase amadora, caracterizando esse universo. Muitas eram as críticas do mundo e até mesmo o escárnio decorrente. Muitas também eram as bênçãos e a unção presenciadas nestes ministérios. Hoje temos grandes estruturas de tecnologia por trás da música evangélica. Marketing vultoso, ingressos e casas de espetáculo, músicos profissionais (muitos sem qualquer compromisso com Deus), arranjos apurados, produções de ponta e intérpretes que dão um verdadeiro show. Tudo evoluiu, inclusive a vaidade, o comércio, a apostasia, o estrelismo, a sensualidade e a indulgência. Tudo evoluiu, exceto a espiritualidade e o compromisso com Cristo - hoje em segundo plano.

 

Os problemas que envolvem os cantores evangélicos brasileiros saltam à nossa vista e exigem de quem ainda conserva o valor da santidade cristã, uma séria reflexão.

 

O problema da influência mercadológica 

 

Influência não significa plágio. Influencia é quando um músico admira outro músico e começa a compor, cantar ou tocar “na linha” do admirado. Mas o que vemos na música evangélica moderna é um plágio velado. Estilo, impostação de voz, repertório, arranjos – tudo é muito parecido. O que deveria surgir como inspiração do Espírito de Deus, na verdade brota nas mesas das gravadoras, que traçam planos de vendas e definem o que os cantores evangélicos vão cantar e até mesmo de que maneira eles devem cantar, para que se obtenha lucro e sucesso. Um perfeito plágio, tanto entre si (pois os cantores evangélicos se imitam), quanto do mundo. A imitação é tão repugnante, que somos até capazes de nos confundir sobre quem está cantando.

 

O problema da postura

 

A maioria dos cantores evangélicos se comporta como artistas mundanos e não como servos de Deus. Assumem sem qualquer pudor a postura de um ídolo e não de um cristão que recebeu um talento de Deus para a Sua glória e louvor. Isso é decisivo para a comunicação do Evangelho através da música, pois a forma e a essência como se conduz um ministério, contagia ou afasta as pessoas de Cristo. Mas basta observarmos as capas dos CDs evangélicos para percebermos o espetáculo deplorável de vaidade, secularismo e sensualidade. Nas entrevistas que dão e em suas demais aparições públicas, toda a linguagem e postura lembram mais um pomposo artista do que um levita e serviço da adoração a Deus.

 

O problema do barulho sem unção

 

Alguns cantores acham que incitando o povo a fazer barulho, levando-os a histeria coletiva, estarão promovendo um mover de Deus. Isso não é verdade. Barulho não é sinal de relevância. Nosso culto precisa ser racional, isso é, lógico. Precisa ser inteligível. A gritaria é o extravasar da emoção e não um sinal de espiritualidade. Pedir ao público parta fazer barulho, tirar os pés do chão ou cair na dança são provas de que o espírito do mundo comanda esses eventos e não o Espírito Santo de Deus.

 

O problema da vaidade

 

Cantor evangélico não pode alimentar idolatria nas pessoas, mas precisa ser exemplo de simplicidade e serviço. Hoje, as notícias que temos são as piores. Sabe-se de cantores que fazem exigências excêntricas e pedantes. Alguns determinam quantas estrelas devem ter os hotéis para sua hospedagem, exigem frutas e alimentos sofisticados em seus camarins, estabelecem o tipo de carro que os levará do aeroporto ao hotel ou até mesmo exigem a troca de toalhas e cortinas para a cor de suas preferências. Sabe-se até mesmo de cantores (homens e mulheres) que se envolvem sexualmente com seus “fãs”, e de outros que esnobam as pessoas que lhes procuram para tietagens. Um absurdo, um acinte, um pecado, que seguramente não ficará impune diante de Deus.

 

O asqueroso problema do talento vendido

 

Em nome da fama e do dinheiro, muitos cantores evangélicos se deixam escravizar pelas gravadoras (que de evangélicas só tem o nome), as quais interferem na essência de sua composição, mudam o visual de seus "artistas" e até ditam o que se deve gravar. Outros apenas mudam de feitores e vão para as senzalas do mundo (como os atuais cantores gospel que trabalham para a Rede Globo, que sempre foi inimiga da fé cristã). Alguns chamam isso de profissionalismo, eu chamo de falta de personalidade, de compromisso e de desrespeito à santidade do evangelho. Além disso, cobram cachês astronômicos para ministrar, exigem camarins, hotéis de luxo e outras regalias. Devido a isso, muitos nem mais se congregam, pois sua agenda de shows já não lhes permite essa oportunidade (o que para eles, por sinal, é uma ótima notícia) e nenhuma igreja de porte médio para baixo possui condições financeiras de solicitar sua presença. São estrelas. Trocaram o púlpito pelo palco. Trocaram a simplicidade da cruz pelos aplausos e as iguarias do mundo. E se assim permanecerem, estarão também trocando a eterna salvação pelo abismo infinito.

 

Obviamente, a problemática é muito maior e exigiria muitas outras linhas analíticas. Vivemos dias de terrível apostasia, de multiplicação do joio e de flagrante agressão à sã doutrina. Hoje se comercializa a pregação, o dom e até a profecia. Sabemos que há de ser assim, tanto quanto se aproxima a vinda de nosso Senhor, mas ai daqueles (sobretudo pastores e líderes) que fomentam e favorecem em suas igrejas esse tipo de pecado.

 

Que Deus abençoe, livre e guarde a sagrada minoria que ainda ama a Igreja de Cristo e luta por sua integridade!