O Sermão da Montanha - Parte 2

20/07/2015 23:46

 

Estudo Bíblico ministrado na IGREJA CRISTÃ PROTESTANTE em 21 de julho de 2015

 

CULTO DE MINISTRAÇÃO BÍBLICA: O SERMÃO DA MONTANHA – 2ª Parte

Leitura Bíblica: Mateus 5

 

 

 As Bem-aventuranças: "Nada tem tanto sucesso como o fracasso"

 

Talvez não haja melhor afirmação da mensagem das bem-aventuranças (Mateus 5:2-12) do que essa: "Nada tem tanto sucesso como o fracasso." Naturalmente, Jesus não estava falando de fracasso real, mas do que os homens têm convencionalmente chamado de fracasso. A cruz foi, certamente, um desastre colossal, por qualquer padrão convencional. Ela só parece "certa" a muitos de nós agora porque consentimos em vinte séculos de tradição bem estabelecida. Não é tão notável, então, que um reino destinado a ser elevado ao poder sobre uma cruz fosse cheio de surpresas e que Jesus dissesse que somente aqueles que fossem fracassos aparentes tinham alguma esperança em suas bênçãos. Nas seguintes bem-aventuranças o Salvador deixa bem claro que o reino do céu pertence não aos cheios, mas aos vazios.

 

"Bem-aventurados os humildes de espírito" (Mateus 5:3). Jesus começa tocando a fonte do caráter do cidadão do reino: sua atitude para consigo mesmo na presença de Deus. Lucas abrevia esta bem-aventurança para "Bem-aventurados vós os pobres" (6:20) e registra também uma desgraça pronunciada por Jesus sobre os ricos (6:24). Na sinagoga de Nazaré, Jesus havia lido a profecia messiânica de Isaías, dos pobres "mansos" recebendo o evangelho (Isaías 61:1; Lucas 4:18) e mais tarde haveria de, sobriamente, advertir que o rico não entraria facilmente no reino (Lucas 18:24-25). Mas, enquanto é verdade que "a grande multidão o ouvia com prazer" (Marcos 12:37) porque a penúria dos pobres os traz à humildade mais facilmente do que a confortável abundância do rico, o relato que Mateus faz do sermão torna evidente que Jesus não está falando da pobreza econômica. Não é impossível para o pobre ser arrogante nem para o rico ser humilde. Estes "pobres" são aqueles que, possuindo pouco ou muito, tem consciência de seu próprio vazio espiritual.

 

A palavra grega, aqui traduzida como "humilde", vem de uma raiz que significa abaixar-se ou encolher-se. Ela se refere não simplesmente àqueles para quem a vida é uma luta, mas aos homens que são constrangidos à mais abjeta mendicância porque eles não têm absolutamente nada (Lucas 16:20-21). Aqui ela é aplicada à pecaminosa vacuidade de uma falência espiritual absoluta, na qual uma pessoa é compelida a implorar por aquilo que ela é impotente para obter (Jeremias 10:23), e ao que ela não tem nenhum direito (Lucas 15:18-19; 18:13) mas sem o que ela não pode viver. Mendigar é duro para os homens, (Lucas 16:3), especialmente os orgulhosos e confiantes em si mesmos, mas isto é onde nossos caminhos pecaminosos nos têm levado e não veremos o reino do céu até que encaremos esta realidade com humilde simplicidade.

 

"Bem-aventurados os que choram" (Mateus 5:4). Os homens têm sido educados para acreditar que lágrimas têm que ser evitadas, para ganhar felicidade. Jesus simplesmente diz que isto não é verdade. Há certa tristeza que tem que ser abraçada, não porque ela é inevitável e a luta fútil, mas porque a verdadeira felicidade é impossível sem ela.

 

Até mesmo a aflição que é inevitável aos homens mortais, seja qual for sua condição, pode ter efeitos saudáveis sobre nossas vidas, se permitirmos que assim seja. Ela pode, como Salomão diz, lembrar-nos da tênue transitoriedade de nossas vidas e pôr-nos a pensar seriamente sobre as coisas mais importantes (Eclesiastes 7:2-4). O salmista, que nos deu tão rica meditação sobre a grandeza da lei de Deus, ligou a dor com o entendimento. "Antes de ser afligido" ele refletiu, "andava errado, mas agora guardo tua palavra." Ele, então, conclui, "Foi-me bom ter eu passado pela aflição, para que aprendesse os teus decretos" (Salmo 119:67,71). As lágrimas têm sempre nos ensinado mais do que os risos sobre as veracidades da vida.

 

Mas, há algo mais sobre o choro, nesta joia de paradoxo, do que as lágrimas a que não podemos fugir, a tristeza que vem sem ser chamada nem procurada. Esta aflição vem-nos por escolha, não por necessidade. O Velho Testamento influenciaria nosso entendimento destas palavras faladas primeiramente a uma audiência judaica. Isaías previu que o Ungido do Senhor viria para "curar os quebrantados de coração" e para "consolar todos os que choram" (61:1-2). Mas estas palavras foram aplicadas somente a um remanescente de Israel, que haveria de ser humilhado e entristecido através das aflições da nação por seus pecados. A visão de Ezequiel da ira de Deus por uma Jerusalém corrupta revelou que somente aqueles que "suspiram e gemem por causa de todas as abominações que se cometem no meio dela" deverão ser poupados (9:4-6). Sofonias fez uma advertência semelhante (3:11-13,18).

 

Os profetas queriam que entendêssemos este choro como a aflição experimentada por aqueles que em sua reverência por Deus estão horrorizados por seus próprios pecados e aqueles de seus companheiros, e são comovidos às lágrimas de amarga vergonha e aflição. Esta é a "tristeza segundo Deus", sobre a qual Paulo escreve, uma tristeza que "produz arrependimento para a salvação" (2 Coríntios 7:10). Estas são as lágrimas que temos que decidir derramar, renunciando ao nosso orgulho obstinado; e por vontade de escolher, chegar ao inenarrável conforto de um Deus que perdoa a todos nós, toma-nos para ele, e finalmente enxugará todas as lágrimas (Apocalipse 21:4). Nada, exceto a misericórdia de Deus pode mitigar uma aflição como esta.

 


 

As Bem-aventuranças: Um Evangelho para os Derrotados

Esquecemo-nos que Jesus é o profeta dos derrotados, não o acampamento dos vitoriosos; aquele que proclama que os primeiros serão os últimos, que os fracos são os fortes e que os simples são os sábios. Em nenhum lugar este fato é mais evidente do que nas bem-aventuranças. Como já notamos em nosso estudo, o vazio, não a plenitude, é a chave para a felicidade.

 

"Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão fartos" (Mateus 5:6). A palavra "fome", nesta bem-aventurança, é a mesma usada por Mateus no capítulo precedente (4:2), ao falar do jejum de 40 dias de Jesus no deserto. Desde que tal fome desesperada é grandemente estranha a nossa experiência, muito desta metáfora pode ser perdida em nós. A bem-aventurança fala do profundo vazio espiritual que está levando à morte. Mas o paralelo não é absoluto. Há uma diferença fundamental entre estar de estômago faminto e de coração faminto. Até mesmo as pessoas mais insensíveis são movidas pela fome do corpo, entretanto, parece haver poucos que reconhecem a fome do espírito e o vazio que o pecado produz. Espiritualmente falando, os homens se parecem com corpos semimortos, mas eles teimosamente se recusam a reconhecer a medonha falta de significado da vida sem Deus. Nem todos os que estão numa "terra distante" têm a sanidade mental para confessar, como o pródigo, que "morro de fome" (Lucas 15:17)! Tais indivíduos continuam a procurar, insensatamente, alguma "casca" melhor, para encher o vazio. Aqueles que "têm fome e sede de justiça" resolveram enfrentar sua desesperada necessidade, pelo que ela é, e procurar o alimento que a satisfaz.

 

A "justiça" que estas almas deslocadas e oprimidas pelo pecado procuram é, primeiro de tudo, a justiça de um direto relacionamento com Deus, através do perdão e da justificação (Romanos 5:1-2; 2 Coríntios 5:20-21) e, segundo, a justiça concreta de uma vida transformada (Romanos 6:8; 8:29). Elas não só desejam sentir-se justas, mas fazer justiça. Ambas as idéias de justiça estão presentes no sermão (5:7 e 5:10,20-48; 6:1). Deus não somente está determinado a perdoar-nos, mas a mudar-nos, para nos fazer participantes da divina natureza (2 Pedro 1:4). E ele nos tem assegurado que vamos ser como ele (Mateus 5:48). Que maravilhosa esperança!

 

Há, embutido em cada ser humano, uma inevitável necessidade de Deus. Esta fome de Deus é comoventemente expressada por Davi, quando fugia de Saul: "Minha alma tem sede de ti; meu corpo te almeja, numa terra árida, exausta, sem água" (Salmo 63:1). O pecado colocou, em cada homem, um vazio que Deus criou. Caracteristicamente, tentamos aliviar nossa dor enchendo-o com todos os tipos de inacreditável escória. Mas seria melhor tentarmos despejar as cataratas de Foz do Iguaçu dentro de uma xícara de chá do que procurar satisfazer nossos espíritos à semelhança de Deus com meras "coisas" e emoções carnais. Incapaz de satisfazer nossa necessidade fundamental, o dinheiro, o prazer e até mesmo a sabedoria mundana tornam-se a base de um apetite insaciável, que nos deixa vazios, irrealizados e acabados (Eclesiastes 5:10-11). Nunca poderemos ter, sentir ou conhecer o suficiente, para encontrar contentamento sem Deus. O que precisamos é de justiça e, como Jesus diz, aqueles que anseiam por ela estão destinados a conhecer uma transcendente satisfação e paz: "Serão fartos" (Mateus 5:6).

 

Há, nesta bem-aventurança, um chamado para mudança de prioridades. Para muitos de nós, um justo relacionamento com Deus é visto como uma parte importante da "boa vida" que todo indivíduo bem formado deveria ter, mas isso não é tudo, certamente. Jesus diz que esse relacionamento com Deus tem que ser mais do que um interesse vital, ele tem que se tornar a paixão dominante de nossa existência. Tudo em que pessoas verdadeiramente famintas podem pensar, é em alimento.

 

"Bem-aventurados os limpos de coração" (Mateus 5:8). J. B. Phillips traduz esta frase, "Bem-aventurados os absolutamente sinceros", e este pareceria refletir o verdadeiro significado das palavras de nosso Senhor. A limpeza, nesta bem-aventurança, não se refere à perfeita justiça da vida e, dado o fato que as qualidades de atitude (coisas que nós temos que fazer, em contraposição com o que Deus faz) dominam esta parte deste sermão, é improvável que se refira principalmente à pureza de um coração perdoado. É muito mais provável que fale da pureza de uma devoção sincera (Mateus 6:22-24; 2 Coríntios 11:2), uma atitude que é possível até para os pecadores (Lucas 8:15). Tiago faz este uso da limpeza quando ele insiste: "Chegai-vos a Deus e ele se chegará a vós outros. Purificai as mãos, pecadores; e vós que sois de ânimo dobre, limpai o coração" (Tiago 4:8). A verdadeira visão de Deus não será concedida aos astutos e calculistas, que se dão a jogos desonestos; ou aos de mente dupla, que nunca podem completamente firmar ambos os pés no reino (Tiago 1:7-8), mas àqueles que são absolutamente honestos e sinceros de coração para com Deus. Eles verão a Deus (5:8), não como os judeus no Sinai, mas no pleno entendimento de um íntimo relacionamento com ele (João 3:3-5; 14:7-9). É uma velha questão, com uma velha resposta. "Quem", pergunta Davi, "subirá ao monte do Senhor? Quem há de permanecer no seu santo lugar? O que é limpo de mãos e puro de coração" (Salmo 24:3-4). Se você deseja ver a Deus com todo o seu coração, você verá. Pessoas assim não permitem que nada se interponha no seu caminho.

 

Este tema segue no próximo Culto de Ministração Bíblica

 

Pr. Reinaldo Ribeiro