Por onde anda a verdadeira música cristã?

10/08/2014 02:03

 

 

“Pois Deus é o Rei de toda a terra, cantai louvores com inteligência.“

 (Salmos 47:7)

 

 

Respeito opiniões contrárias, mas para mim chega a ser flagrante, óbvio e evidente que a chamada música cristã moderna (gospel), via de regra, é bem inferior aos hinos clássicos que eram escritos anos atrás. Isto não é uma reclamação apenas com base no estilo em que as músicas atuais são escritas na maioria das vezes. Na verdade as letras atuais são o que revelam mais nitidamente quão baixo nossos padrões caíram. Os hinos do passado eram ferramentas didáticas maravilhosas, cheias da Palavra e de doutrina (ensinamento) sólida, um meio de ensinar e admoestar uns aos outros, como nos é ordenado em Colossenses 3.16 “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao Senhor com graça em vosso coração.” Ou seja, os hinos antigos eram verdadeiras pregações. As músicas atuais exigem um microscópio eletrônico para que se localize um versículo bíblico sequer.

 

Passados os anos, a música evangélica tomou uma direção diferente e o seu foco se tornou mais subjetivo na área espiritual e mais descarado no campo comercial. As músicas passaram a enfatizar a experiência pessoal e os sentimentos do cantor (agora já não mais adorador). Os músicos modernos têm promovido essa tendência e o que vêm semeando nesta última geração, agora apesenta sua colheita em abundância assustadora. A igreja moderna, alimentada por letras insípidas, tem pouco apetite pela Palavra e pela doutrina bíblica sólida. Nós também corremos o perigo de perder a rica herança da hinologia, visto que alguns dos melhores hinos da nossa fé caem na negligência, sendo trocados por letras banais, cujas melodias em geral são inspiradas nos ritmos e estilos do mundo. É uma crise e a igreja está sofrendo espiritualmente. A diferença principal é que a maioria das músicas gospel são expressões de testemunho pessoal visando tocar uma audiência formada de pessoas, enquanto a maioria dos hinos clássicos eram músicas de louvor dirigidas direta e exclusivamente a Deus.

 

Esse movimento possui uma origem na história. O estilo e a forma da música gospel foram imitados (isso mesmo, imitados) diretamente dos estilos musicais populares do final do século XIX. Quem geralmente é considerado o pai da música gospel é Ira Sankey, um cantor e compositor talentoso, que galgou fama agarrado em D. L Moody, um dos maiores evangelistas da era moderna da igreja. Sankey era o solista e líder de música para as campanhas evangelísticas de Moody na América do Norte e Inglaterra. Sankey queria uma música mais simples, mais popular e que se prestasse mais ao evangelismo que os hinos clássicos. Então ele escreveu músicas gospel – na maioria mais curtas, cantigas simples com refrãos, no estilo das músicas populares da sua época. Sankey cantava cada verso como um solo e a congregação juntava-se a ele em cada refrão. Embora a música de Sankey tenha provocado alguma controvérsia no início, logo a forma pegou no mundo inteiro. Já no início do século XX a maioria das novas obras eram músicas gospel no gênero que Sankey inventou. As letras dessas músicas não falam nada de substância real e sua abordagem realmente não é particularmente cristão. É uma pequena rima sentimentalista sobre a experiência e emoções pessoais de alguém. Enquanto os hinos clássicos procuravam glorificar a Deus, as músicas gospel glorificavam o sentimentalismo puro e simples. mesmo hoje, a maioria das músicas gospel sofre dessas fraquezas… Antes de Sankey, os hinos eram propositadamente compostos com um objetivo didático. Eram escritos para ensinar e reforçar conceitos bíblicos e doutrinários no contexto do louvor direcionado a Deus. Esses hinos visavam à adoração a Deus, proclamando sua verdade de maneira a aumentar a compreensão da verdade pelo adorador. Eles criaram um padrão de adoração, que era tão racional quanto emocional. E isso era perfeitamente bíblico. Afinal de contas, o primeiro e maior mandamento nos ensina a amar a Deus do todo o nosso coração, alma e mente (Mateus 22.37).


Nunca teria passado pela cabeça dos nossos ancestrais espirituais que o louvor era algo feito com o intelecto subjugado. A adoração que Deus procura é a adoração em espírito e em verdade (João 4.23,24).


Hoje em dia, a adoração é frequentemente caracterizada como algo que acontece bem longe do domínio do nosso intelecto. Essa noção destrutiva tem criado vários movimentos perigosos na igreja contemporânea. Talvez tenha chegado ao ápice no fenômeno conhecido como a Bênção de Toronto, onde risos irracionais e outras emoções selvagens eram considerados a mais pura forma de adoração e uma prova visível da bênção divina. Em nossos dias, os herdeiros da Benção de Toronto são movimentos absurdamente heréticos como o G12 e seus similares, nos quais essa noção moderna de adoração como um exercício irracional tem causado muito prejuízo às igrejas, implicando em um declínio na ênfase da pregação e do ensino, dando mais importância em entreter a congregação e em fazer as pessoas se sentirem bem, quando não a despertarem certo transe que favoreça suas ministrações esquizofrênicas e de manipulação mental. Tudo isso deixa o crente no banco da igreja destreinado e incapaz de discernir, e muitas vezes jubilosamente ignorante dos perigos ao seu redor.

 

Como se não bastasse toda a alteração por que passou a adoração cristã, uma cultura de mercado se apossou da musica da igreja nesses últimos anos. Para quem se converteu de vinte anos para cá, haverá mais dificuldade em compreender que há algo errado com a musica chamada evangélica por já ter pego o bonde em movimento, mas para quem conheceu Cristo antes desse período, certamente se percebe a mudança que ocorreu no mundo da musica cristã. Antigamente o cantor crente era uma pessoa comum, humilde, simples, em quem nós na igreja não víamos nenhum estrelismo, enxergando apenas que o irmão tinha recebido um dom como qualquer outro da parte de Deus. Nesse tempo ainda não existia a visão comercial e obviamente ninguém pensava em fazer uma musica para ganhar dinheiro, portanto não existiam cantores ricos às custas do louvor. Jamais pensaríamos em chamar o dito irmão de artista, muito menos em pedir seu autógrafo. Um cantor evangélico de algumas décadas atrás jamais aceitaria cantar em casas de shows bilhetados e abominaria a ideia carnal de ter um fã clube. Qualquer um que se atrevesse a cobrar 1 centavo que fosse para louvar ao Senhor seria imediatamente desqualificado e despedido como mundano e necessitado de conversão. Tempos bons… onde por mais que o irmão obtivesse êxito em compor e dispusesse de uma voz privilegiada, jamais tinha esses talentos como sendo seus, mas os via como ferramentas dadas por Deus para servi-lo como um dever, jamais aceitando elogio, honra e glória por isso. ”Como o crisol é para a prata, e o forno para o ouro, assim o homem é provado pelos louvores que recebe.” (Provérbios 27:21).

 

Mas então veio a apostasia que nos arrebatou e nos transportou para o caos que nos encontramos hoje. O talentoso irmão que outrora, humildemente, usava sua voz para num coro, nos ajudar a oferecer uma oração sublime a Deus em forma de musica, agora se transformou numa “estrela” pop-gospel. O que isso significa? Significa que ele passou da condição de levita, para se  tornar um artista, uma celebridade, um “profissional” da musica como qualquer outro segundo os moldes do mundo. O que era uma santa obrigação passou a ser profissão, e muitíssimo bem remunerada; agora aquele singelo irmão não é mais uma pessoa simples e comum, a humildade foi para a estratosfera, hoje ele é um “astro gospel”. Seguindo a orientação do seu verdadeiro empresário, o diabo, ele possui fã-clube, onde o primeiro sócio é o próprio inimigo. Vestindo-se de forma diferenciada, se exibe em carros importados, mora em mansões, se hospeda em hóteis luxuosos nas cidades onde é contratado não mais para louvar e sim para fazser shows, e produz clips que são verdadeiras superproduções, seguindo os padrões do mundo e despertando em outros milhares de irmãos a vontade de o seguirem nesse sonho mundano.

 

Tempos atrás anunciávamos que um servo de Deus viria louvar na igreja, hoje se diz que o cantor vai “se apresentar”, fazer um show; e ao invés da igreja, agora ele “se apresenta” nas casas de espetáculo do mundo, porque o negócio todo é feito em louvor ao dinheiro e é lá onde ele pode faturar mais sob os gritos frenéticos dos seus ex irmãos, agora fãs. O próprio termo “show” já revela por si mesmo quem está por traz da coisa toda, e para esse “show” o irmão hoje cobra um preço vergonhoso e infame chamado “cachê”, que obviamente deve ser “santo”, e que muitas vezes corresponde ao pagamento de anos de trabalho de um assalariado comum. Me parece que o versículo de Mateus 10:8, “De graça recebestes, de graça daí.”, não está mais vindo impresso nas Bíblias de alguns cantores e pastores promotores de eventos e por isso não é mais pregado nos púlpitos de hoje em dia. O resultado é que esses menestréis que posam de cristãos, estão fazendo verdadeiras fortunas à custa de gente tola e míope, que não se importa em pagar por uma diversão carnal travestida de louvor, que se fosse verdadeiro não teria preço e não se prestaria a gerar lucro, no embalo das emoções justificadas por argumentos astutos ou como fruto de suas ilusões religiosas humanas aprendidas de púlpitos estéreis e de escritores evangélicos de quinta categoria.

 

Fica racionalmente evidente que esse “ser” que a musica gospel moderna finge cultuar não é o Deus da Bíblia, porque se for, em vez de culto, isso na verdade é um insulto à santidade do Nome de Cristo. O Senhor acusou Israel de tentar, sem sucesso, viver ao seu bel prazer e ao mesmo tempo, através de rituais vazios, apaziguá-lo. O Senhor disse: “Afasta de mim o estrépito (ruído, som, ostentação, pompa) dos teus cânticos; porque não ouvirei as melodias das tuas violas.” (Amós 5:23), “ Odeio, desprezo as vossas festas(eventos religiosos), e as vossas assembleias (cultos) solenes não me exalarão bom cheiro.” (Amós 5:21), “ Quando vindes para comparecer perante mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis a pisar os meus átrios(templo)? Não continueis a trazer ofertas vãs(sem valor); o incenso é para mim abominação, e as luas novas, e os sábados, e a convocação das assembleias (reuniões); não posso suportar iniquidade, nem mesmo a reunião solene. As vossas luas novas, e as vossas solenidades, A MINHA ALMA AS ODEIA; JÁ ME SÃO PESADAS; JÁ ESTOU CANSADO DE AS SOFRER. Por isso, quando levantam as vossas mãos, escondo de vós os meus olhos.” (Isaias 1:12-15).

 

A igreja evangélica emergente está repetindo este mesmo pecado, acreditando que nesse caso o fim será diferente do de Israel. Deus, porém, adverte na Sua Palavra que será o mesmo.

 

Lamentavelmente, o momento onde os cristãos mais mentem é na hora do louvor; o que infelizmente é um problema de caráter que se alastra. A leviandade está impregnada na maior parte do louvor de vanguarda que se faz hoje em dia, e como no tempo de Israel, é impossível que tamanho disparate passe despercebido pelo altíssimo, porque, apesar de a grande maioria dos crentes não tomar conhecimento, Deus tem o poder de ler os corações. É 100% impossível dizer uma vírgula que não seja verdade, sem que Ele o saiba.

 

Essa invasão do mundo nas igrejas através da música, onde ritmos consagrados historicamente ao louvor de satanás recebem uma capa gospel, onde melodias que estimulam a sexualidade passam a receber letras cristianizadas, onde danças e coreografias profanam o espaço sagrado de culto a Deus e ainda recebem status de ministério, onde cantores que se dizem cristãos perderam completamente a vergonha de se apresentarem ao mundo como artistas e alguns até trabalham para instituições inimigas da fé – seguramente acarretará um peso e uma consequência que deixarão bem claro, no acerto de contas final, quem tinha a razão acerca desse debate. Aqueles que dizem que todos os ritmos são de Deus, que todas as expressões musicais são de Deus, porque são covardes incapazes de admitir que admiram o mundo e por isso promovem tais adaptações – descobrirão de um modo muito desagradável (a não ser que se arrependam agora mesmo) os resultados que essa heresia lhes dará por toda eternidade.

 

Seria bom todo o universo gospel parar de brincar de louvar. Brincar com o sagrado custou caro aos Israelitas; para alguns deles a própria vida, e não tem porque acontecer diferente agora. Cada palavra que sair de nossas bocas tem que corresponder à mais absoluta verdade de nossa vida prática, ou então esperemos para pronunciá-las no tempo em que os nossos atos permitam que elas sejam proferidas sem prejuízo à verdade. Negociar declarações de amor, de agradecimento e de adoração ao Altíssimo prova que essas declarações são no mínimo falsas e atesta uma ignorância fora de qualquer parâmetro por tentar ludibriar o autor de toda inteligência, que é Deus.

 

Deus é santo. Sua Igreja é santa. Sua Obra é santa. O louvor é santo. E santidade significa separação, diferença. Santidade não se inspira no mundo e nem o copia. Santidade sobrevive da inspiração do alto, da novidade de vida, da consagração que nos torna diferentes.

 

Que todos aqueles que fazem música no meio cristão reflitam sobre isso e que só Deus os influencie!