Por que eu sou cristão?

02/10/2014 18:04

 

 

"Porque aos seus anjos dará ordens a teu respeito,

para que te guardem em todos os teus caminhos."

(Salmos 91:11)

 

 

No dia em que compreendemos quem seja Deus, Sua obra e Seu propósito para conosco, indubitavelmente somos conduzidos a Ele. Mas essa não é uma jornada semelhante em todas as experiências e cada um precisa discernir sua própria história, assim como as diretrizes por meio das quais Deus nos atrai a si. Eu tive meus tropeços e não foi fácil chegar ao ponto que me acho. Vários foram os obstáculos que precisei transpor e na presente análise dos mesmos, gostaria de dividir com você leitor(a), como se deu minha trajetória de fé e quais são os sólidos fundamentos da minha decisão de pertencer a Cristo Jesus.

 

- O problema da história de vida: o meu sistema de vida familiar era bastante contrário aos rumos cristãos, o que tornava improvável meu encontro pessoal com Deus. Mesmo tendo sido criado dentro de um sistema religioso tradicional, não havia em nosso lar uma experiência sincera e prática de observância daquilo que oralmente se pronunciava. Rituais, crendices, superstições e imposições religiosas não traziam nenhuma contribuição real e eu sempre me senti distante e ignorante acerca de Deus e Suas verdades. Isso era muito desanimador.

 

- O problema da personalidade: eu nunca fui o que se pode chamar de "uma pessoa fácil". Gênio forte, senso crítico apurado, humor ácido e espírito revolucionário, faziam de mim, desde a infância, o "sujeito diferente da turma". Quando criança preferia brincar isolado, na adolescência adotava gostos e preferências opostos a tudo que minha geração prestigiava e questionava profundamente o sistema religioso que se denominava cristianismo. 

 

- O problema da intelectualidade: aos 12 anos de idade eu li meu primeiro livro, que foi "Feliz Ano Velho", de Marcelo Rubens Paiva. Foi a experiência mais extraordinária que vivi até então e posso assegurar que poucas coisas que se deram no futuro foram mais marcantes que esse evento. Vários foram os impactos que essa leitura me proporcionou. Os livros se tornaram meu vicio e eu dedicava mais de 6 horas diárias à leitura de tudo que conseguia obter. Foi algo tão forte, que mesmo hoje, décadas após, ainda não consigo ficar um dia inteiro ser ler e escrever. Obviamente isso me proporcionou uma bagagem intelectual interessante, sedimentando em mim o espírito crítico das amplas análises e o aguçamento de minhas tendências questionadoras. Uma vez que o aprofundamento filosófico-científico, em geral, afasta o homem da crença num Deus pessoal e bíblico, eu também nutria profundas dificuldades para acreditar nas tradições e relatos religiosos que chagavam ao meu conhecimento.

 

- O problema dos maus exemplos: no conjunto de minhas observações, lembro que sempre me interessei por pesquisar as vidas daqueles que se diziam representantes de Deus. Sacerdotes, fiéis eram o alvo de minha mira analítica e não poucas vezes eu os vi reduzidos às cinzas da vergonha e do escárnio público, por conta de suas quedas morais e espirituais. Naturalmente, isso dava grande contribuição para que eu me mantivesse desinteressado por tudo quanto tivesse qualquer conotação religiosa.

 

- O problema das decepções: evidentemente nem todos que pertenciam ao universo religioso eram reprováveis. Quando aos 16 anos de idade eu me tornei evangélico (por razões que ainda direi aqui), pude conhecer pessoas que me encantaram e nas quais me espelhei. Infelizmente, o passar dos anos me mostraram os agudos espinhos que se ocultavam nas flores visíveis. Muitas dessas pessoas desertaram, tombaram, seguiram as veredas da apostasia. Outras se voltaram contra mim, me condenaram quando tropecei, me abandonaram e me decepcionaram amargamente. Seguir adiante nessas circunstâncias não foi fácil.

 

- O problema da solidão teológica: quando todos os problemas citados acima são superados e fica como saldo derradeiro uma firme convicção de tudo aquilo que aprendemos e carregamos na alma, ainda resta o enfrentamento das concepções contrárias. E quando essas concepções contrárias se multiplicam a ponto de se tornarem padrão corriqueiro - fica um vazio solitário, uma sensação de que estamos sozinhos no campo de batalha das ideias mais íntimas e fundamentais da fé. Muitos são os que desistem de tudo, quando, por desânimo, atingem esse estágio.

 

Dentro de uma lógica avaliativa, todos esses problemas deveriam ter me impedido de chegar a Deus e permanecer em Seu Caminho, porém não foram capazes de bloquear os planos e propósitos que o Senhor tinha e ainda tem para mim. Meu encontro com Deus se deu por razões que estão acima da lógica, do racionalismo, da visão concreta dos obstáculos ou da gravidade das tribulações.

 

Deus cuidou de mim, me preservou, me preparou e permitiu que eu atravessasse todos esses viés, justamente para que hoje eu tivesse a aptidão necessária para citá-los, não como um abismo intransponível, mas como um meio pelo qual aprendemos a depender do poder de Deus em nossas vidas. É por isso que sou um cristão. Porque aprendi a depender de Deus.

 

Não sou cristão por interesses materialistas, pela satisfação do ego, pela busca do reconhecimento humano. Já tive essa oportunidade, mas foram justamente as vitórias nos problemas acima citados, que me ensinaram a purificar minha fé a ponto de fugir dessas armadilhas e repugná-las com toda força de minha alma, denunciando, inclusive, seus resultados desastrosos, assim como seus patrocinadores e protagonistas.

 

Eu sou cristão porque amo o mundo que me rodeia e o quero curado de suas crises e cegueiras. Sou cristão porque minha visão não se limita às imperfeições desse presente século e meu coração não está atrelado às visibilidades passageiras dessa dimensão.

 

Eu sou cristão porque Deus me amou primeiro e quis em Sua infinita sabedoria que eu assim me tornasse, para que com toda alegria e satisfação pudesse publicar ao mundo que não me envergonho da cruz de Cristo!