POR QUE É NECESSÁRIA UMA NOVA REFORMA?

07/11/2014 02:13

 

 

Afrânio Horffman – Gramado(RS)

 

Pastor Reinaldo li atentamente tudo que pude sobre o seu ministério e estou muito impressionado. É difícil em nossos dias encontrarmos líderes cristãos falando em protestantismo. Acho até que a maioria nem sabe o que foi a Reforma. As novas igrejas em geral são apostólicas, neo pentecostais e adeptas do G12. O que levou o senhor em pleno século XXI a fundar uma igreja que projeta resgatar a Reforma. E por quê o senhor acha que é preciso essa nova Reforma?

 

Resposta

 

Prezado irmão Afrânio, sua pergunta me permite abordar um de meus temas prediletos e ao mesmo tempo explicar de forma pública aquilo que é dúvida de vários irmãos que nos escrevem. Sendo assim, de imediato já lhe agradeço pela oportunidade que me é proporcionada.

 

Eu não sou, nunca fui e nem jamais serei adepto da ideia de que precisamos fundar novas igrejas para alcançar a meta missionária que nos cabe. Meu caso especifico parte de uma necessidade que foi maior que meu próprio interesse e que venceu uma relutância pessoal de mais de uma década. Ocorre, porém, que fiquei (por conta de tudo aquilo que creio e defendo) sem ambiente e sem espaço, tanto nos círculos tradicionais, quanto nos modernos. Não obstante, meu querido irmão, a cena trágica que caracteriza o evangelicalismo atual me deixa claro que precisamos de um novo avivamento e uma nova Reforma. E para que nossa contribuição não esbarrasse apenas no discurso, decidimos cair em campo, lançando a proposta de um ministério que é radicalmente cristão, bíblico, reformador e teológico.

 

E por qual razão cremos com tanta firmeza que é necessária uma nova Reforma Protestante?

 

A Igreja Evangélica Brasileira precisa de uma nova Reforma. Muitos daqueles que se dizem protestantes, nem sabem o que isto significa e já não protestam mais. Muitos daqueles que se autodenominam evangélicos têm transigido com a verdade e caído na malha sedutora do evangelho da conveniência, do mundanismo, do estrelismo gospel, do comércio da fé, do feminismo pastoral, das heresias sincréticas e da exaltação do crente. Doutrinas estranhas têm encontrado guarida no arraial evangélico. Novidades forjadas no laboratório do engano têm sido acolhidas com entusiasmo por muitos crentes. Floresce em nossa Pátria uma igreja que tem extensão, mas não profundidade. Cresce em números, mas não em maturidade. Tem influência política, mas não possui autoridade moral e muito menos espiritual. Faz propaganda de um pretenso poder, mas transige com o pecado.


A Igreja Evangélica Brasileira precisa voltar às Escrituras. Muitos púlpitos estão sonegando aos crentes o pão verdadeiro e dando ao povo um caldo ralo e venenoso. Há aqueles que pregam o que o povo quer ouvir e não o que o povo precisa ouvir. Pregam para entreter os bodes e não para alimentar as ovelhas. Pregam para arrancar aplauso dos homens e não para levá-los ao arrependimento. Pregam apenas prosperidade e não salvação. Pregam somente curas e milagres e não novo nascimento. Pregam uma espécie de autoajuda e não a ajuda do alto. Há muitas igrejas fracas e enfermas por estarem submetidas a um cardápio insuficiente, desprovido de nutrientes bíblicos e deficiente. A fraqueza e a doença começam pela boca. Há morte na panela. O veneno mortífero das heresias destila em muitas frentes teológicas. Muitos púlpitos espalham esse veneno e muitos crentes se intoxicam com ele. Precisamos colocar a farinha da verdade nessa panela, a fim de que o povo tenha pão com fartura na Casa do Pai. Pão esse que desce do céu e se manifesta na única, segura e suficiente revelação de Deus aos homens, que é a Bíblia Sagrada.


A Igreja Evangélica Brasileira precisa voltar às grandes doutrinas da Reforma. Precisamos reafirmar que a Escritura é verdadeira, infalível, inerrante e ainda que tenhamos revelações, sonhos e visões, estes precisam de farto respaldo bíblico, para que comprovem verdades que emanam de Deus. Precisamos reafirmar que a fé em Cristo é suficiente para a nossa salvação, precisamos reafirmar que a graça de Deus é a única base sobre a qual recebemos a nossa salvação. Precisamos reafirmar que a glória pertence a Deus e não ao homem, a uma igreja ou instituição humana qualquer.



A Igreja Evangélica Brasileira precisa não apenas de Reforma, mas, também, de Reavivamento. Não basta ter doutrina certa, é preciso ter vida certa. Não basta ter apenas luz na mente, é preciso ter fogo no coração. Não basta apenas conhecimento, é preciso ter fervor espiritual.

 

Tenho orado continuamente, meu querido irmão Afrânio, para que Deus nos desperte para o conhecermos verdadeiramente! Que nos encha daquela alegria indizível e cheia de glória, a fim de que nos deleitemos nele e passemos a viver tão somente para a sua glória e o seu louvor!



A Reforma foi uma volta às Escrituras, um retorno à doutrina dos apóstolos, um compromisso inalienável com a verdade divina. A igreja cristã havia se desviado da doutrina dos apóstolos e acrescentado muitos dogmas estranhos e heréticos ao seu arcabouço doutrinário. A Reforma denunciou esses erros, eliminou-os e colocou a igreja de volta nos trilhos da verdade. Hoje, precisamos de uma nova Reforma. Há muitos desvios e muitos acréscimos absolutamente estranhos ao ensino bíblico presentes em várias igrejas chamadas evangélicas.


Uma das razões mais gritantes que evidenciam a necessidade urgente de uma nova Reforma é o esvaziamento da pregação nas igrejas evangélicas. Perdemos a centralidade de Cristo no culto e a primazia da pregação das Escrituras. Estamos nos capitulando à proposta do culto show. Em muitas igrejas o púlpito foi substituído pelo palco, a Bíblia pelo entretenimento e o choro pelo pecado pela encenação artística. Até danças e coreografias, repletas de sensualismo e vazias de espiritualidade, se atrevem a usufruir da nomenclatura ministerial. As músicas estão se tornando produto de consumo. As letras dessas músicas, com raras exceções, estão cada vez mais vazias de conteúdo bíblico e os cantores gospel cada vez mais ricos e populares. Precisamos de liturgia pura, de liturgia que coloque Cristo no centro do culto em lugar do homem no centro. Precisamos de liturgia onde o púlpito não seja governado pelas técnicas do entretenimento. Onde a mensagem não seja mercadejada, onde o evangelho não seja diluído para agradar a preferência dos ímpios e dos falsos eleitos. Precisamos de uma liturgia que glorifica a Deus, exalte a Cristo, honre ao Espírito Santo, promova o evangelho, edifique os santos e traga quebrantamento aos inconversos. Precisamos, enfim, de uma Reforma Protestante!