RESPONDENDO PERGUNTAS DE LEITORES (Fev.14)

12/02/2014 11:59

 

 

Railton Digson – Teresina (PI)

 

 

Olá Reinaldo. Por mais que você defenda a sua religião e se empenha em advogar a bíblia assim como o seu suposto deus, eu vejo na própria bíblia uma série de contradições que facilmente envergonham os cristãos e deixam todos eles embaraçados e sem resposta. Só para exemplificar eu citaria a figura mitológica de Sansão. Por que deus concedeu forças para Sansão, se ele a usou apenas para atos de violência e de vingança? Que deus amoroso é esse que teria dado tanta força para um homem, permitindo que em sua morte ele matasse tantas pessoas, dentre as quais presume-se que haviam inocentes? Se o cristianismo é uma doutrina que fala de paz, como você explicaria isso?

 

Resposta

 

Obrigado por sua pergunta Railton. Antes de tudo, só para ser justo, eu parto da premissa de que Deus não é uma suposição e quanto ao fato de ter chamado Sansão de mito, o que mostra sua ignorância histórica, sugiro que pesquise na web e leia com seus próprios olhos as diversas descobertas já feitas pela arqueologia, que sugerem não apenas a existência real desse juiz bíblico, assim como de todo o contexto histórico e social narrado pelas Escrituras.

 

Quanto à sua pergunta em lhe diria que conforme a narração bíblica (Juízes 13 - 16), a força do juiz Sansão vem do seu voto, da sua dedicação ao Senhor. Esse é o ponto fundamental. Por outro lado, é importante notar que não podemos ler a história dos juízes com a nossa perspectiva. Todos eles lutaram, guerrearam em nome de Deus, combatendo os cananeus para conquistar a Terra Prometida. Estava em jogo a atuação da promessa que Deus fez a Moisés. Aquelas pessoas liam os eventos como realização da vontade de Deus. Os personagens eram tidos como instrumentos através dos quais Deus realizava o seu plano. É uma visão da história acontecida, sob a ótica da fé. Mas não é dito que seja a visão de Deus. É uma leitura feita pelas pessoas que acreditam em Deus.

 

A interpretação da vontade de Deus, de como ela se concretiza no mundo, muda, no decorrer da história. Antigamente muitos pensavam que Deus apoiasse as guerras. Para nós, isso hoje é inconcebível. Mas não era assim no passado. E a Bíblia retrata esse processo de entendimento. Se no Antigo Testamento se combatia em nome de Deus, Jesus, por outro lado, ensina a oferecer a outra face, para quem nos agride. A Bíblia revela um processo. Nenhuma etapa dele pode ser ignorada e/ou descartada. Uma casa sem fundamento não fica em pé.

 

Em relação a Sansão, a força que ele tem vem, sem dúvidas de Deus. Mas como ela é usada faz parte da escolha e decisão humana; Deus dá a graça, mas somos nós que a usamos, conforme nossas escolhas e nossa história. A morte, com certeza, nunca é vontade de Deus, que é o Senhor da Vida.

 

Viviane Simmensen – Coritiba (PR)

 

Eu acho que vocês evangélicos são radicais em muitos assuntos e nem mesmo leem direito a Bíblia que tanto honram. O sexo por exemplo é uma simples capacidade funcional de todo ser humano, mas pra vocês é um tabu e muitas vezes ensinam absurdos sobre esse assunto. Ficam condenando quem faz sexo antes do casamento mas me diga onde está escrito na Bíblia que é pecado fazer sexo antes do casamento? Até hoje nenhum padre e nem pastor me respondeu isso.

 

RESPOSTA

 

Olá Viviane, obrigado por sua participação. A sexualidade faz parte do ser humano e o caracteriza durante toda a sua existência. Não é, portanto, uma atribuição ou uma capacidade funcional, mas é a sua modalidade substancial. Segundo o Gênesis ela é uma realidade boa e a diferença sexual faz parte do projeto de Deus (homem e mulher Deus os criou – Gn 1,27). O mesmo livro retém que o significado da sexualidade está na união (Os dois serão uma só carne – Gn 2,24) e na procriação (sede fecundos, multiplicai-vos – Gn 1,28).


Sendo parte integral da pessoa, o pecado afeta também a esfera sexual. E a Bíblia fala da tentação a qual a sexualidade é exposta, a dor do parto e o abuso do homem sobre a mulher.


Com o passar do tempo o pensamento cristão sobre a sexualidade sofreu a influência de correntes baseadas em visões ascéticas e rigorosas, que sublinhavam aspectos negativos relacionados com ela e também em relação à corporeidade e ao prazer sexual. O resultado foi o abomínio da sexualidade e a criação de muitos prejuízos.


Ultimamente o pensamento tem mudado e a sexualidade vem reconquistando o seu justo valor e se liberta de posições morais tradicionais como aquela que aceitava a sexualidade apenas em caso de procriação ou como algo que devia ser tolerado para evitar outros pecados.



Respondendo a sua pergunta: Na verdade não existe uma resposta pronta. De modo errôneo, pensamos que a Bíblia é um livro que dá respostas. Não é assim. Dá fundamentos para o nosso comportamento e cabe a cada comunidade continuar a leitura e atualização da Palavra de Deus.

 

Não tem nenhuma passagem bíblica que fala explicitamente sobre o sexo antes do casamento. Trata-se de uma questão moderna. Da mesma forma a Bíblia não diz que se pode fazer sexo antes do casamento. Dá, contudo, algumas indicações que precisam ser lidas com olhos críticos e sempre dentro da comunidade.



A partir disso poderíamos, por exemplo, retomar o texto do livro do Gênesis. O homem deixa o seu pai e a sua mãe para viver com sua mulher; os dois se tornam uma só carne (2,24). Essa passagem não diz nada sobre o sexo antes do casamento, mas fundamenta toda eventual relação sexual. Quando duas pessoas fazem sexo elas se tornam ‘uma só carne’, uma unidade. O ato sexual une duas pessoas, rendendo-lhes conjunto, um casal. De fato Jesus (Mt 19,5-6) retoma a passagem do Gênesis e acrescenta: “já não são dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus uniu, o homem não deve separar”. Nesse sentido pode ser lido o texto de Êxodo 22,15-16, onde se diz que se algum homem seduz uma jovem não casada deve, como consequência, tomá-la como esposa.



Esses textos não são categóricos em afirmar que não se pode fazer sexo antes do casamento. Todavia são claros em afirmar a importância do ato sexual: não é um jogo de conquistas e nem simples busca de prazer, mas expressão de amor e responsabilidade.

 

Fazer sexo com alguém não é apenas um ato como qualquer outro, mas engloba diversas dimensões antropológicas tais como aquela pessoal e interpessoal.

Pessoal: Quando fazemos amor, nos confrontamos com a responsabilidade em relação a nós mesmos, ao nosso crescimento como pessoa.

 

Interpessoal; O ato sexual exige que consideremos o outro como uma pessoa e não um simples objeto de consumo.



Portanto, a leitura da Bíblia evidencia essas ideias e nos ajuda a compreender que o sexo desse ser exercido de modo consequente. E nada seria mais consequente do que uma relação estável, sólida e legal como é o casamento, razão pela qual assim eu recomendo a todas as minhas ovelhas.

 

Janio Rosa – Niterói (RJ)

 

Quer uma prova de que a Bíblia não é a Palavra de Deus? Os dinossauros. Ela nunca fala sobres eles. Por que um livro tão antigo e que se diz perfeito não aborda algo tão importante e que hoje é incontestavelmente provado? Se a Bíblia fala até da criação do mundo, então porque não fala dos dinossauros?

 

RESPOSTA

 

Querido Julio, os autores bíblicos não sabiam da existência dos dinossauros. Eles se extinguiram milhões de anos antes que o ser humano aparecesse na terra e o autor do livro do Gênesis, por exemplo, não podia conhecer a sua existência. Foi apenas em período recente, graças aos progressos das ciências, sobretudo da arqueologia, que se encontraram vestígios desses animais antigos e foi possível reconstruir como eles eram feitos.

 

Na Bíblia existe o termo hebraico 'tanniyn', normalmente traduzido como "monstro marinho", "serpente" ou "dragão". Essa palavra aparece quase 30 vezes na Bíblia. Há também o "behemoth", traduzido como "hipopótamo", que, segundo Jó 40,15 seguintes, é a criatura mais potente que existia.

 

É verdade que todas as culturas têm imagens de monstros que se assemelham aos dinossauros. Talvez isso faça parte do nosso arquétipo. E também a Bíblia, nas menções que faz aos 'monstros', entra dentro desse estilo. Até hoje, quando sabemos bem que os dinossauros não existem mais, é muito comum nos depararmos com lendas sobre monstros, como aquela contada na Escócia, sobre o monstro do Lago Ness. Em relação à Bíblia, é evidente que os autores bíblicos não conheceram os dinossauros e por isso não falaram deles. De fato, em relação a aspectos científicos, os autores sagrados são influenciados pelo conhecimento existente na sociedade em que viveram. E isto não contradiz, de forma alguma, o princípio da inspiração das Sagradas Escrituras.

 

Avelino Jr – Goiânia (GO)

 

Eu acho um absurdo o que vocês pastores fazem ao obrigar as pessoas a ficarem casadas mesmo quanto elas não se amam mais. Hora, se o amor entre duas pessoas acabar qual o problema delas se divorciarem? Eu sou religioso e na minha igreja a separação é aceita livremente de acordo com a vontade das pessoas e não por imposição de regras. E pra você? Na sua igreja em que situação é permitido o segundo casamento? Se não houver traição de nenhuma das partes, mas houve a separação, por acaso nenhum dos dois poderá se casar novamente?

 

RESPOSTA

 

Meu caro Avelino, cada igreja tem suas próprias regras. Isso inclusive foi motivo de divisão, como conta a história do nascimento da igreja anglicana. Para a maioria das igrejas evangélicas (incluindo aquela a que pertenço) o casamento é indissolúvel e só a morte cancela seu vínculo terreno. Portanto, entre os cristãos protestantes, apenas o(a) viúvo(a) pode se casar novamente, na igreja. Em outras igrejas, os nossos leitores poderiam nos ajudar a dizer como funciona, e isso nós respeitamos profundamente.

Em relação a sua pergunta, é fundamental consultar a Bíblia. Acredito que Mateus 19:3-6 nos possa ajudar a refletir sobre a questão.

 

O texto de Mateus tem como pano de fundo uma controvérsia entre os judeus do tempo de Cristo. Entre eles, haviam alguns que toleravam o divórcio e outros que não o aceitavam. Há vestígios de uma clássica discussão entre dois mestres daquele tempo, Hilel e Shamai, sobre os motivos que justificavam a separação. De fato, no Antigo Testamento, na lei de Moisés, o homem pode se divorciar de sua esposa, conforme é descrito em Deuteronômio 24, por qualquer motivo (se ela não encontra mais graças aos olhos do homem). Sobre essa questão intervém Jesus.

 

O ensinamento de Jesus é bastante claro e sublinha a indissolubilidade do matrimônio. É verdade que em Mateus, em 19,9, o texto insinua que se pode repudiar a mulher em caso de “adultério”, mas a tendência é dizer que essa exceção é um tipo de concessão temporária dada à comunidade judaico-cristã de Mateus, visto que nos outros textos paralelos que falam dessa passagem (Marcos 10,11s; Lucas 16,18 e I Coríntios 7,10s) não se acena a nenhuma exceção.

 

Essa é a melhor resposta que tenho a lhe oferecer, porque é assim que eu creio!

 

Kadma Sampaio – Rio Branco (AC)

 

Senhor Reinaldo, em mateus 2,3, referente a Jesus, na versão Almeida, usa-se o termo "adorá-lo". Na Tradução Novo Mundo (testemunhas de jeová) usa-se o termo "prestar-lhe homenagem". Qual a diferente entre os termos? Será que um anula o outro?

 

RESPOSTA

 

Prezada Kedma, presumo que você seja uma testemunha de Jeová ou que esteja recebendo estudos dirigidos por membros dessa organização. Serei cuidadoso e claro em lhe fornecer essa resposta.

 

A passagem de Mateus, citada por você (Mateus 2,2), se refere aos Magos que chegam do oriente e perguntam a Herodes onde está o Menino Jesus. Vamos ver como algumas versões traduzem esse texto:

Versões protestantes

 

Almeida Corrigida Fiel - Dizendo: Onde está aquele que é nascido rei dos judeus? porque vimos a sua estrela no oriente, e viemos a adorá-lo.


Nova Tradução na Linguagem de hoje: Eles perguntaram: — Onde está o menino que nasceu para ser o rei dos judeus? Nós vimos a estrela dele no Oriente e viemos adorá-lo.
Novo Mundo: dizendo: “Onde está aquele que nasceu rei dos judeus? Pois vimos a sua estrela [quando estávamos] no Oriente e viemos prestar-lhe homenagem.”

 

Versões católicas

 

Ave Maria: Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.


CNBB: e perguntaram: "Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para prestar-lhe homenagem." 


Edição Pastoral: e perguntaram: «Onde está o recém-nascido rei dos judeus? Nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos para prestar-lhe homenagem.»


Bíblia de Jerusalém: Perguntando: "onde está o rei dos judeus recém-nascido? Com efeito, vimos sua estrela no seu surgir e viemos homenageá-lo"

 

Homenagear ou adorar?

 

A questão é se os Magos (sábios) vieram homenagear ou adorar o Menino Jesus na manjedoura. Da visão geral oferecida nas traduções acima, vemos que os católicos preferem usar o verbo "homenagear" (exceto Ave Maria) e os protestantes "adorar". A solução, obviamente, é consultar o texto original, em grego.

 

Em grego se usa "proskunew"

 

Mateus usa o verbo grego proskunew (pronunciado "prosquineu"). Atualmente na internet há um farto conteúdo de estudos, onde você pode encontrar uma estatística exaustiva do uso dessa palavra na Bíblia (o texto é em inglês). O verbo significa, literalmente, colocar-se de joelhos e indica a ação de inclinar-se por terra em sinal de respeito por uma autoridade maior. Pessoalmente penso que seja mais do que uma homenagem. Trata-se, na verdade de um gesto de submissão, que exprime o colocar-se a serviço de. Se é feito em relação a Deus exprime a ação da adoração. Por isso, se tivesse que traduzir teria usado, em português, o verbo "adorar". Invés, se a situação exigisse uma certa neutralidade, usaria o verbo "prostrar-se".

 

Espero ter conseguido esclarecer sua dúvida. Que Deus a abençoe.

 

 

Agradecemos a todos os leitores que nos trouxeram suas perguntas. Pedimos desculpas aos que ainda não tiveram suas respostas publicadas, reiterando que todas serão em tempo hábil devidamente expostas aqui. Aos que ainda não enviaram suas perguntas, reforçamos o convite para que fiquem a vontade.