Um recado aos proprietários do céu

20/12/2013 02:32

 

 

”Porque ainda sois carnais; pois, havendo entre vós

inveja, contendas e dissensões, não sois porventura carnais,

e não andais segundo os homens?”

(I Coríntios 3:3)

 

 

Não é preciso muito para concluir que a briga entre algumas religiões é pela escritura do céu. Especialmente entre as religiões cristãs, há uma concepção egocêntrica de que o céu pertence a um grupo de proprietários. Essa ideia seria cômica se não fosse trágica.

 


Cômica porque simboliza o cúmulo da prepotência de grupos que sem nenhum embaraço ou senso do ridículo assumem o lugar de Deus. Trágica porque os que se nutrem dessas crenças, proliferam o ódio entre os seres humanos, os quais foram feitos, todos e todas, à imagem e semelhança de Deus, como dizem as Escrituras, livro sagrado que os cristãos professam seguir.

 


O ódio espalhado pelos “donos do céu” deixou e tem deixado um rastro de sangue em toda a história da humanidade. Pela grandeza que muitos que pagaram com a vida hoje é possível a liberdade de culto em tantos países do mundo. Noutros o sacrifício dos mártires foram soterrados pelo extremismo religioso.

 


No Brasil, onde a conquista da liberdade de culto também foi assinada com sangue, basta assistirmos o discurso de alguns célebres líderes denominacionais para notarmos o vigor exclusivista dos “proprietários do céu”. Eles ignoram a história dos mártires e com os egos inflados assumem o trono do Altíssimo; aquele cujo filho antes de sua morte avisou: “Na casa de meu pai há muitas moradas vou preparar-lhes lugar”.

 


O conceito de propriedade no contexto religioso é um perigo porque se nutre do equívoco da “chamada especial”, reivindicada por diversas denominações, que em suma, até carregam em suas entranhas o princípio de paz e amor entre as pessoas, mas que, por outro lado, removem o foco do objeto primário da fé cristã e do Deus ao qual se deveria reverenciar, estabelecendo como centrais muitos elementos que em verdade são secundários, tais como práticas religiosas, dogmas e interpretações pessoais; sujeitas a toda sorte de preconceitos e ignorâncias, que são próprias do caráter humano.

 


O que deveria ser ultrajante para os “donos do céu” é que apesar do número crescente de seguidores entre as diversas igrejas, haja ainda pessoas morrendo de fome, frio e um incontável número de almas sem Cristo espalhadas por esse mundo tenebroso.

 

 

Na igreja visível de Cristo não deve haver individualidade. Tanto a edificação, consolação e exortação devem ter como objetivo o Corpo de Cristo e não a instituição religiosa em si; o júbilo pela felicidade do outro, a tristeza pelo pecado de um irmão, a gentileza no trato com os mais simples, a ajuda social aos pobres, tudo isso deve ter como perspectiva o coletivo e não a individualidade.

 

 

Não adianta muito uma igreja se vangloriar de possuir todos os dons carismáticos se não há unidade no Corpo. Esta unidade subentende que todos os membros do Corpo de Cristo tenham igual cuidado uns pelos outros (I Coríntios 12:25). A individualidade possui ênfase mais na questão da função ministerial do que na prática acionária dos dons.

 

 

Que os apóstolos das placas e dos rótulos torçam para que o céu esteja loteado a seu favor, caso contrário, asseguro que estarão em sérios apuros no grande dia do acerto de contas final.

 

 

Que o Senhor nos dê da sua graça para nos amarmos, apesar das inúmeras diferenças. A intolerância não é uma questão somente da sociedade não regenerada. Lamentavelmente os servos do Senhor também tem se mostrado intolerantes a respeito de doutrinas, teologias, dogmas, hábitos, tradições religiosas, etc (e é para estes que escrevo aqui). Não significa que compactuo com a decadência teológica em detrimento da ortodoxia, mas, que não posso depreciar, menosprezar e até mesmo odiar meu irmão só porque ele não pensa, não vive ou não se congrega na mesma igreja que eu.