Uma luz sobre a fé irracional

15/09/2014 00:28

 

 

"Rogo-vos pois, irmãos, pela compaixão de Deus,

que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício vivo,

santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.

E não vos conformeis a este mundo, mas transformai-vos

pela renovação da vossa mente, para que experimenteis

qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus.

(Romanos 12:1-2)

 

O entendimento que se tem acerca da fé, equivocadamente, reside em diversas mentes como o estereótipo do antagonismo a todo raciocínio lógico e à ponderação. Nesse sentido, fé para muitos parece ser o matrimônio com o absurdo.

 

Sociologicamente essa avaliação possui fundamentação, pois é fácil constatarmos os atos extremos que o homem de todas as épocas e culturas já praticou em nome da fé. Atos que vão desde o genocídio "legitimado por Deus" até a construção de tratados teológicos absolutamente insustentáveis. 

 

No tocante à igreja cristã, porém, temos uma fonte sagrada de fé, como norma de crença e conduta, que é a Bíblia e é com base nela, sob a luz áurea da referência supracitada, que daremos um breve apanhado na questão, dentro do que concerne aos nossos portões internos.

 

1. Nossos corpos são sacrifício vivo

 

O contexto da aliança judaica requeria o sacrifício de animais para a obtenção da Graça Divina. Nessa dispensação, porém, nós somos o sacrifício puro e agradável a Deus. Isso sugere compromisso, diligência e responsabilidade na conduta de vida que adotamos e expressamos socialmente. Como embaixadores de Deus, somos a representação física e visível de seus propósitos para com o mundo. Como carta escrita Sua, recai sobre nós o atributo de espelho e referencial, onde o homem sem Deus O busca naqueles que O possuem. Como bom perfume desse sublime Evangelho, somos o mecanismo de propagação das boas novas da salvação para um mundo perdido e carente de paz. A fé, portanto, antes de tudo é uma ação de compromisso leal e sincero, que envolve testemunho saudável e isento de qualquer indolência para com nossa sagrada missão e que nos impele a uma compostura totalmente diferenciada daquilo que caracteriza o mundo, seus sistemas e seus escravos.

 

2. A santidade física expressa a racionalidade (e não a irracionalidade) do culto a Deus

 

Grande é o equívoco praticado por aqueles que tentam caracterizar seu relacionamento e sua forma de cultuar a Deus com ações tresloucadas, desvairadas e muitas vezes até esquizofrênicas, que são pelos tais atribuídas como suposta ação do Espírito de Deus. Um culto racional seguramente não é um culto baseado no experimentalismo emocional. O Espírito de Deus não é passageiro de nossos gritos, urros, pulos, quedas, choros, risos, sapateados ou quaisquer outras pirotecnias praticadas em nome da fé.

 

Um estado mental alterado interfere decisivamente para que haja a incompreensão da mensagem bíblica em seu fundamento, essência e profundidade. Nesse sentido, o culto fica resumido a padrões de expressões físicas e emocionais do homem, o que o torna semelhante a rituais pagãos, nos quais engenhosamente se incentivam tais excessos, com vistas a uma ação de lavagem cerebral mais eficaz.

 

A ordem e decência do culto, ensinada pelo apóstolo Paulo em todo o capítulo 14 de I Coríntios, sobretudo a partir do verso 26, nos dão clareza acerca desse grande perigo que é confundir ação emocional com Obra do Espírito Santo, pois a loucura que o mundo não conhece e que Jesus afirmou que nos caberia por conta da mensagem do Evangelho em nada tem a ver com a loucura real de ações esquizofrênicas e desequilibradas que são difundidas em nome de um entendimento equivocado do que seja o real pentecostalismo.

 

3. A fé racional dirige-se para um papel histórico distante de toda assimilação secular

 

Surpreende-nos o fato de que ao mesmo tempo que tantos cristãos alegam deter a unção do Espírito Santo, vê-se tamanha secularização nos ministérios da igreja. Uma breve observação, a título de exemplo, com o que tem ocorrido no meio sacerdotal e musical da igreja, mostram-nos com óbvia clareza o quão estreitas andam as inter-relações entre mundo e igreja. Uma crise de identidade, fomentada por um surto de narcisismo têm deformado o culto cristão, espetacularizando-o, tornando-o um produto de marketing e envergonhando, por consequência, o verdadeiro Evangelho.

 

A fé racional, segundo os padrões bíblicos, é uma fé de ação histórica transformadora e não de assimilação. Servos de Deus são tão diferentes de seus contemporâneos quanto Jesus o foi dos de Sua época. E se assim não for tem o prejuízo imediato da perda de toda autoridade para o desempenho missionário de levar ao mundo um Cristo ignorado pelas grandes massas.

Ser diferente não significa, porém, agir com sintomáticas alienígenas, mas simplesmente assumir o exemplo de Cristo Jesus como padrão de comportamento num mundo que cuidadosamente nos observa.

 

 

4. Não há fé genuína sem mentalidades transformadas

 

O culto irracional baseia-se por ações exteriores. Já o culto racional brota de uma mente transformada e assemelhada à mente de Cristo. A Palavra de Deus nos adverte para que pensemos nas coisas do alto e que tenhamos o nosso pensar ocupado pelas diretrizes celestiais. Pouco valor possui para o Reino um culto repleto de manifestações emotivas, mas que não gera conversão verdadeira. O cristão que fala em línguas estranhas na igreja não pode ser o mesmo que fala mal do próximo fora de seus portões. O cristão que grita freneticamente e de forma descontrolada emite urros no púlpito, não pode ser o mesmo que agride com suas palavras as pessoas de seu convívio.

 

O culto racional é praticado por um coração dotado de fé saudável e essa, por sua vez, é a energia motivadora de uma maravilhosa ressurreição daqueles que estão mortos para o mundo.

 

5. Somente a fé racional atrai a resposta Divina

 

Por fim, temos condições de afirmar as razões pelas quais os frutos não são iguais aos discursos. As grandes aglomerações em praça pública (algo típico dos fariseus) e as orações emitidas por potentes microfones, ecoadas a partir de gigantescas estruturas de palco, onde demônios são amarrados, determinações de autoridade espiritual são feitas e ordens ao mundo invisível são emitidas, lamentavelmente não trazem resultados efetivos na realidade social dos locais em que se encontram. Os elevados índices de violência, mortes no trânsito, degradação familiar, abusos contra crianças, mulheres e velhos, além de outras tantas revoltantes mazelas, não são eliminadas (pelo contrário, até aumentam) pelo poder dessas orações públicas de "quebra de maldição".

 

E qual seria o real motivo disso?

 

Deus disse que quando dois ou três estivessem reunidos em Seu nome, ali Ele estaria. E disse também, que tudo quanto fosse ligado na Terra por sua igreja, seria ligado nos céus. Por que então as coisas não ocorrem conforme as ordens dos determinadores da confissão positiva?

 

O culto está sendo irracional e insincero. O centro das atenções está sendo o homem e a fé está sendo direcionada para a própria fé e não para o Seu Autor, que é Jesus.

 

Somente quando abandonarmos a ignorância, quando aprendermos que crer no invisível não é crer no absurdo, quando devolvermos a Deus a glória e a honra que somente a Ele competem e quando abandonarmos " a fé barulhenta" pela fé bíblica, poderemos ver com nossos próprios olhos o milagre de Deus atuando sobre a face da Terra e sobre a alma do homem. E isso só será possível quando entendermos que razão não é inimiga da fé.