Uma voz em defesa da Igreja

19/12/2014 02:41

 

 

“Não deixemos de reunir-nos como igreja, segundo o costume de alguns,

mas procuremos encorajar-nos uns aos outros,

ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia." 

(Hebreus 10:25)

 

 

Há no meio cristão um movimento recente (e crescente) de pessoas que estão deixando as igrejas em nome de uma liberdade, uma libertação do “sistema”. Eles são mais conhecidos como “desigrejados”. 

 

Eles são os que de alguma forma entenderam que para servir a Cristo não é preciso estar necessariamente em uma igreja, o que de fato é verdade, pois é a Igreja de Cristo que se reúne diariamente em locais apropriados para prestarem seus cultos de forma pública. Muitas dessas pessoas querem permanecer fora das igrejas porque foram machucadas, traídas, abandonadas, usadas, enganadas ou vitimadas em alguma outra forma de abuso por líderes ambiciosos e descompromissados. Outros estão fora porque não querem ser confundidos com aqueles que estão na televisão fingindo que pregam o Evangelho, não querem comungar ou ter parte com falsos profetas desse tipo. Alguns estão sinceramente buscando a pureza da igreja quando pregam para outros saírem das igrejas, mas eles estão sinceramente errados, e, neste caso, ter um desejo sincero não os livrará do erro que estão cometendo. Entretanto, já vi muitos desses que estão fora “do sistema” se reunindo com outros que também estão fora, tornando-se incoerentes, já que estão formando (sem querer) novas comunidades, a dos “desigrejados”.

 

Há muitos tipos de “desigrejados”, todavia os mais arrogantes e perigosos são aqueles que não saíram das igrejas. Estes se autodenominam os que “pensam fora da caixa”. Estão pregando um evangelho disfarçado e destituído de justiça.

 

Essas pessoas têm vários argumentos, desde lógicos até teológicos, mas o fato é que se esquecem de que Cristo nos criou para vivermos em comunidades. O propósito de vivermos em comunidades vai além da necessidade de socialização do povo de Deus, é mandamento. 

 

Todos creem que Deus distribui dons aos homens (I Co 12), e não há um cristão sequer que possa dizer “eu não tenho dom algum”. Sabemos que os dons que temos não são dados para nos exibirmos (apesar de que alguns fazem isso descaradamente), mas para edificarmos os outros. Essa é razão de todos termos dons: Edificação dos outros, logo, da igreja. Ninguém usa o dom de servir (Se o seu dom é servir, sirva - Rm 12:7) para servir a si mesmo, ou o dom de contribuir (se é contribuir, que contribua generosamente - Rm 12:8) para contribuir para si mesmo. Todo dom é dado para ser usado em favor dos outros (Cada um exerça o dom que recebeu para servir aos outros - I Pe 4:10). Pensar que podemos viver isolados da comunidade de Cristo é em última instância ser infiel a Deus. Ele nos colocou em comunidades sociais para que pudéssemos exercer o dom que recebemos para o bem de todos. Isolar-se é o passo mais curto para o suicídio espiritual. Levar outros a fazerem isso é genocídio de almas. 

 

Noutro ponto, afastar-se da igreja demonstra arrogância, e não humildade. O problema com a humildade é que sempre que alguém a reconhece em si mesmo, ela toma as malas e vai embora. Entretanto, dá pra saber que essas pessoas nunca serão humildes porque elas julgam-se isentas de erros quando dizem que nas igrejas há muitas pessoas falsas e hipócritas. Tenho feito coro ao convite de John MacArthur quando diz: “junte-se a nós, temos lugar pra mais um”. Veja bem, se você se afasta da igreja porque há nela muitos irmãos hipócritas, será que você deixou de ser um? Alguém diz: “não peque”, mas esse mesmo alguém peca. Alguém diz “respeite”, mas fura sinal, estaciona na contra mão, para na vaga de idoso, joga papel na rua, trata mal atendentes de Call Centers e etc. Onde estão os hipócritas? Eu digo: dentro e fora das igrejas. Será que depois que saem das igrejas, essas pessoas se tornam melhores que as de dentro? Eu duvido, com todas as letras!

 

A fuga dos religiosos julgadores não gera uma vida sem julgamentos, pois fora da igreja temos muitas cobranças e muitos dedos apontados. Com um agravante, com menos pessoas ao lado para compartilhar as fraquezas e decepções. Sem contar com a nossa consciência que é a acusadora principal por não cumprirmos o que é certo.

 

Caímos também no terrível erro de generalizar todos os líderes religiosos como oportunistas e falsos, esquecendo que o líder (pastor) que é correto e vive a proposta do evangelho não fica fazendo auto marketing do tanto que é santo, pois aprendeu direto com Jesus que quando se faz uma boa coisa, que seja em secreto.

 

Esse tipo de líder, seguidor de Jesus, está em toda parte, menos na mídia, por isso você só o encontra indo passar um tempo ao seu lado, nas igrejas onde eles estão servindo. Os desigrejados acabam cometendo o erro que sempre condenaram nos outros, o de julgar e colocar injustamente todos no mesmo “saco”, e pior, vivem com essa culpa sozinhos.

 

Portanto, argumentar que dentro de igrejas há muitos hipócritas soa tão hipócrita quanto à hipocrisia desse argumento. Não faz o menor sentido. 

 

Os que vivem longe das comunidades acham que são sábios porque não estão se submetendo aos líderes religiosos atuais, já que há somente um medidor entre Deus e os homens (I Tm 2:5). Esse é o problema de observar textos isoladamente fora de contexto, vira pretexto para o erro!

 

De fato, não há nenhum mediador entre Deus e homem, só Cristo. Só que pensar que pastores podem ser intermediadores nesse sentido é infantil! Esse argumento não é sólido, na verdade, é banal. Eles se esquecem de examinar TODA a Escritura. Veja os argumentos bíblicos (sem achismo, porque o que o texto quer dizer é exatamente o que está dizendo):

 

Obedeçam aos seus líderes e submetam-se à autoridade deles. Eles cuidam de vocês como quem deve prestar contas. Obedeçam-lhespara que o trabalho deles seja uma alegria e não um peso, pois isso não seria proveitoso para vocês. (Hb 13:17)

 

Lembrem-se dos seus líderes, que lhes falaram a Palavra de Deus. Observem bem o resultado da vida que tiveram e imitem a sua fé (Hb 13:7)


Saúdem a todos os seus líderes (Hb 13:24)

 

A Versão Almeida traduz “líderes” por “pastores”. Nesse ponto, quero destacar que não estou defendendo a fé cega em “pastores” (falsos), mas homens que sabemos e conhecemos por serem devotos a Deus. “Pastores”, nesse contexto, temos por aqueles que zelam pela vida das suas ovelhas com o próprio sangue. Existem muitos desses, ainda que sem mídia e popularidade. Aqueles outros, na verdade são falsos pastores. São estes falsos pastores que dão motivos para pessoas desejarem sair das igrejas. Como bem disse Judas, “Estes são manchas em vossas festas de amor, banqueteando-se convosco, e apascentando-se a si mesmos sem temor; são nuvens sem água, levadas pelos ventos de uma para outra parte; são como árvores murchas, infrutíferas, duas vezes mortas, desarraigadas” (Jd 1:12).

 

Entretanto, não podemos generalizar. Nem todo policial é corrupto, nem todo funcionário público é preguiçoso, nem todo pastor é mal caráter. Se alguns agem assim, não quer dizer que todos são iguais. O problema é que “um pouco de fermento leveda toda a massa” (Gl 5:9). Quando veem aqueles que estão na TV praticando o mercantilismo da fé, eles (e o mundo) pensam que todo pastor é assim. Infelizmente temos que lidar com isso. Há muitos que dizem “nos representar”, mas são uma vergonha para o evangelho. Desde pastores a cantores gospel, há muitos que estão levedando a massa, mas devemos diferenciá-los dos verdadeiros pastores e cantores cristãos. 

 

Olhando apenas por essa perspectiva, eles estão certos de acharem tais homens falsos e hipócritas, mas se esquecem que joio e trigo se misturam até o dia da colheita (Mt 13:30). O outro lado da moeda é que devemos viver em comunidade para edificarmos uns aos outros, e, caso se levante no caminho homens maus e impiedosos dizendo-se serem “um dos nossos”, os sinceros devem se manifestar (I Co 11:19). 

 

Por fim, as Escrituras nos exortam a vivermos em comunidades para encorajarmos uns aos outros (Não deixemos de reunir-nos como igreja [ou congregação]segundo o costume de alguns, mas encorajemo-nos uns aos outros, ainda mais quando vocês veem que se aproxima o Dia - Hb 10:25). Veja, o movimento “desigrejados” é antigo. 

 

Há de se lembrar que quando falamos igreja, não estamos nos referindo a placa alguma. Batistas, Assembleianos, Presbiterianos, Cristãos Protestantes etc, são parte de um mesmo corpo chamado Igreja do Deus Vivo. 

 

Talvez o argumento mais precioso seja o da reciprocidade, que se baseia no amor e gratidão. Reconheçamos isto para permanecer em comunidade: achamos um povo que decidiu nos amar apesar de nossos erros e defeitos. Não é válido que decidamos amar esse povo com todos os seus erros e defeitos? Reciprocidade e Gratidão. 

 

Se alguém não é capaz de superar os erros dos outros e amá-los apesar disso, não é digno do amor de ninguém, já que também tem erros, e de fato, o amor de Deus não estará aperfeiçoado nele. 

 

Portanto, permaneçamos em comunidade e não saiamos dela, pois é um instrumento de Deus para nos aperfeiçoar. Ame a sua igreja, congregue-se e trabalhe por sua saúde espiritual, ciente de que não há nenhum indício bíblico, ético ou lógico que fundamente o desigrejamento.

 

“Se nos amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor está aperfeiçoado em nós” (I João 4:12)